Ana Clara R. Viana, Cecília C. Campos, Débora G. Martins, Fernanda O. D. de Sá, Luísa C. G. de Souza e Mateus P. Rodrigues
Com uma área estimada em 1.28 milhões de Km², a Mata Atlântica já foi uma floresta que ocupava aproximadamente 15% do território brasileiro, indo do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte. Atualmente, a área remanescente ocupa aproximadamente 160 mil Km² (12.5%) da área original.
Fig.1 – Evolução do desmatamento da Mata Atlântica, por SOS Mata Atlântica². Do lado esquerdo a reconstrução do que era a Mata Atlântica e do lado direito a ilustração do remanescente da floresta. (disponível em https://www.sosma.org.br/wp-content/uploads/2016/06/SOSMA_Cartilha-Aqui-Tem-Mata_online_1301.pdf/, retirado em 21/11/2019)
Desde o início da colonização brasileira até os dias atuais a Mata Atlântica vem sofrendo, em 1500, com a extração do pau-brasil e outras madeiras, no século XVI com a monocultura da cana-de-açúcar, no século XVII com a monocultura do café, no século XX com a industrialização e, no século XXI, com uma intensa urbanização. Porém, permanece detentora de importância global! Atualmente abriga 72% da população brasileira, abrange 17 estados, 7 bacias hidrográficas, influência no clima de toda essa região por possuir um elevado índice pluviométrico, além de abrigar uma riquíssima biodiversidade.
A pequena fração remanescente de Mata Atlântica sofre ainda um outro processo que ameaça gravemente sua sobrevivência: uma intensa fragmentação. Isso, significa que as áreas preservadas se encontram espalhadas em pequenos fragmentos isolados entre si (denominados manchas de vegetação), devido a presença de áreas urbanas, estradas, atividades agropecuárias, dentre outros. Com isso, essas manchas, por possuírem uma área pequena, se tornam uma fonte de recurso muito limitada às populações animais remanescentes, o que acaba resultando na diminuição drástica do número de indivíduos dessas populações e, dessa forma, na redução da diversidade. Criando um ciclo onde populações pequenas geram proles com variabilidade genética cada vez menor, o que impacta na capacidade dos indivíduos de se adaptarem às alterações ambientais dessas áreas e até mesmo no desenvolvimento de doenças congênitos, tornando essa espécie muito suscetível à extinção naquele local. E, como se sabe, os animais exercem papel indispensável à manutenção das florestas - como polinizadores, dispersores de sementes e constituintes da cadeia trófica, por exemplo-, assim, com a redução desses indivíduos nas matas, a possibilidades de sobrevivência desse ecossistema diminui.
Fig.2 – Fragmentação da vegetação na Reserva Biológica Poço das Antas, por Ernesto Viveiros de Castro (disponível em https://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/27923-o-que-e-fragmentacao/, retirado em 21/11/2019)
Pensando nisso, alunos do curso de Ciências Biológicas da UFMG, desenvolveram um jogo educativo com intuito de estimular o pensamento ecológico da nova geração de uma maneira não tradicional e, assim, contribuir com a formação de uma sociedade mais consciente acerca das questões ambientais. Inicialmente a brincadeira foi pensada para a participação de alunos do ensino básico, pois é a faixa etária na qual os estudantes estão mais aptos ao desenvolvimento e estimulação cognitiva, porém são muito agitados, o que requer a utilização de metodologias variadas a fim de conseguir a atenção e envolvimento deles aos conteúdos ministrados.
A brincadeira consiste em uma adaptação do jogo “rouba-bandeira”, com objetivo de trabalhar temas como espécies, sub-populações, dispersão de indivíduos, paisagem em mosaico (ilustrado na figura 2: as manchas de vegetação e o entorno composto por áreas devastadas), fluxo gênico (que é a transferência gênica entre populações), e corredores ecológicos (que são áreas de vegetações que conectam as manchas).
Fig.3 – Ilustração Rouba-Bandeira, por Colégio web (disponível em https://www.colegioweb.com.br/atividade-fisica-na-escola/rouba-bandeira.html, retirado em 21/11/2019)
A quadra de futebol foi a paisagem em mosaico: as áreas de pênalti foram as grandes manchas de vegetação e cerca de cinco outras manchas na quadra, espalhadas de forma aleatória, marcadas com fita crepe, foram as pequenas áreas remanescentes de Mata Atlântica, cada uma com um número em seu interior indicando quantos “animais” cabem ali. Todo o restante da quadra representou as áreas de cidades, lavouras e estradas (obstáculos) que, normalmente, ficam entre essas manchas.
Fig.4 – Foto da quadra de futebol da Escola A onde foi realizado a atividade
Em seguida foram formados dois times: o grupo dos animais e o grupo dos obstáculos. O time dos animais foi espalhado entre as diversas manchas pequenas, respeitando o número máximo de capacidade de cada uma. Aqueles que eram do time dos animais e não couberam nessas manchas foram espalhados entre as áreas de pênalti, sendo que todas as áreas de vegetação eram “piques” para os “animais”, ou seja, ali eles não poderiam ser capturados pelo time adversário. Os integrantes do time dos “obstáculos” ficaram espalhados em toda a área que corresponde à matriz.
Assim, a ideia é que pelo menos 80% dos representante do time dos “animais” se juntem em apenas uma das grandes manchas. Tendo tempo de recomeçar a brincadeira, é interessante que sejam criados corredores de matas que interligam uma mancha a outra, para criar a ideia facilitadora do corredor ecológico na passagem dos animais no meio ambiente.
Antes do início da brincadeira se faz importante trabalhar temas como a fragmentação de biomas, como ocorre na Mata Atlântica, e a consequente perda da biodiversidade. De modo que a brincadeira sirva como uma experiência lúdica desses temas. E, ao fim da prática, é essencial uma roda de conversa que (1.) instigue os participantes a falarem sobre suas experiências, principalmente como “animais”, da dificuldade de passarem por tantos obstáculos para chegarem à outra mancha, (2.) dar uma explicação sobre a influência da fragmentação na redução de indivíduos da espécie e, consequentemente, uma possível redução da variabilidade genética, que culminará no fim daquela população, e (3.) explicar sobre como os corredores ecológicos se tornam essenciais ao ligarem manchas e, com isso, possibilitar um fluxo de indivíduos e consequentemente um fluxo gênico entre populações anteriormente isoladas.
Na experiência realizada pelos alunos da disciplina Ecologia I, do curso de Ciências Biológicas da UFMG, em duas escolas públicas de Belo Horizonte, aqui chamadas com o nomes fictícios de “A” e “B”, foram obtidos resultados interessantes!
Na escola “A”, três turmas de alunos de oitavo e nono ano participaram da dinâmica e responderam um questionário ao final, para que fosse avaliado o alcance didático da proposta. Em uma questão fechada de verdadeiro ou falso, quando indagados sobre a veracidade da frase “Bem menos que metade da área original de Mata Atlântica se encontra preservada, sendo que a maior parte desta mata que restou está concentrada em várias manchas pequenas de vegetação”, 79% dos alunos responderam que era verdadeira. E na frase “A maioria das áreas de Mata Atlântica que são conservadas até hoje estão isoladas entre si e se encontram rodeadas por áreas marcadas pela ocupação humana (agricultura, cidades, estradas)” foi respondida por 91 % dos alunos como verdadeira. Tais resultados sugerem que a representação do atual estado da Mata Atlântica por meio da brincadeira na quadra foi bem assimilada por eles.
Em outra questão aberta, quando foram indagados sobre possíveis alternativas para minimizar o problema da fragmentação das matas, 52% dos alunos responderam “corredores ecológicos”, ao passo que o restante das respostas se distribuiu entre “não desmatar” e “criar mais áreas de preservação”, por exemplo. Mais uma vez, foi percebido que a atividade alcançou seus objetivos, já que, antes da atividade, praticamente nenhum deles já tinha ouvido falar sobre corredores ecológicos e, no final, mais da metade optou por essa alternativa para minimizar o problema em questão.
Para concluir, e animar aqueles que ainda acreditam na educação como grande ferramenta de transformação planetária, vale citar o exemplo de um aluno da escola “B”, de cerca de 9 anos de idade, que, ainda na primeira parte da atividade -quando estava sendo exposta em forma de desenho no quadro da sala de aula a situação atual de fragmentação da Mata Atlântica e os problemas dela derivados-, pediu licença para ir até o quadro, pegou o pincel e propôs uma solução: “é só plantar mata aqui!”, disse o aluno, enquanto desenhava no quadro corredores conectando os fragmentos isolados de Mata Atlântica desenhados. Essa solução foi proposta pelo aluno sem que ele nunca tenha ouvido falar em corredores ecológicos!
MANUAL DO JOGO:
https://drive.google.com/file/d/1ce-HPNfG9lSk26i5V90FN25K-6xKW7GV/view?usp=sharing
QUESTIONÁRIO:
https://drive.google.com/file/d/1DYntV3LXAQGsB0_94bnE8lYVJQP2Xv-Y/view?usp=sharing
REFERÊNCIAS:
KIEMLE, Tiago. Reserva Atlântica. Vakinha, 2019. Disponível em:<https://www.vakinha.com.br/vaquinha/reserva-atlantica-contencao-de-barreiras-da-floresta/>. Acesso em: 20 de nov. de 2019;
Cartilha Aqui Tem Mata online. SOSMA, 2016. Disponível em:<https://www.sosma.org.br/wp-content/uploads/2016/06/SOSMA_Cartilha-Aqui-Tem-Mata_online_1301.pdf/>. Acesso em 20 de nov. de 2019;
Mata Atlântica em Pé. SOSMA, 2019. Disponível em:<https://www.sosma.org.br/109055/operacao-mata-atlantica-em-pe-se-consolida-na-defesa-bioma/>. Acesso em 20 de nov. de 2019;
Nove dos 17 estados da Mata Atlântica estão no nível do desmatamento zero, aponta estudo. SOSMA, 2019. Disponível em:<https://www.sosma.org.br/108410/atlas-da-mata-atlantica/>. Acesso em 20 de nov. de 2019;
AGUIAR, João Batista. Bioma Mata Atlântica. Planeta Biologia, 2016. Disponível em:<https://planetabiologia.com/bioma-mata-atlantica/amp/>. Acesso em 20 de nov. de 2019;
Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica. SOSMA, 2019. Disponível em:<https://www.sosma.org.br/wp-content/uploads/2019/05/Atlas-mata-atlantica_17-18.pdf>. Acesso em 20 de nov. de 2019;
FARIA, Lucas F de. Programa de Pesquisa em Biodiversidade, 2017. Disponível em:<https://ppbio.inpa.gov.br/sites/default/files/Faria_L_F_de_Dissertacao_2017.pdf>. Acesso em 20 de nov. de 2019.
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