Há cerca de 480 milhões de anos atrás, no período Ordoviciano, as plantas começaram a se aventurar pela terra firme, abrindo caminho para um mundo totalmente novo no qual os insetos puderam prosperar. Mesmo com mudanças nas condições climáticas globais e eventos de extinção em massa, as ordens sobreviventes foram capazes de evoluir e de se diversificar para o que são essencialmente as ordens que conhecemos hoje. No entanto, foi somente durante o Cretaceo que essa diversificação se deu de forma significativa. Novos grupos de insetos com papéis cruciais no equilíbrio da natureza surgiram, os polinizadores, tudo graças a algo que chamamos de co-evolução. Vespas, formigas, abelhas, borboletas e besouros, evoluíram lado a lado com as flores, ajudando-as a se reproduzirem e se espalharem pelo mundo em troca de abrigo, locais de oviposição e alimento.
Em estudo recente, geólogos brasileiros buscaram esclarecer o cenário paleoecológico da fauna de insetos da Formação Crato no Brasil, na região de Nova Olinda. Localizada na Bacia do Araripe, no Nordeste, é uma formação geológica datada do Cretaceo Inferior (Aptiano) que conserva grande riqueza paleontológica, seja de vertebrados, invertebrados ou plantas. Seus sítios fossilíferos chamam a atenção de pesquisadores principalmente por apresentar ocorrências do tipo Lagerstätte: depósitos sedimentares com uma ampla gama de condições geológicas capazes de conservar até mesmo tecidos moles. É composta por formações de rochas siliciclásticas e rochas carbonáticas, nas quais se destacam calcários laminados de diferentes tonalidades.
Os pesquisadores examinaram cerca de 1135 espécies de insetos fósseis agrupados em 55 famílias. A coleção está sob os cuidados do Laboratório de Paleontologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e inclui insetos encontrados em calcários cinza-escuro e amarelo-claro.
Como resultado, descobriu-se que os insetos terrestres eram mais comuns do que os insetos aquáticos e semi-aquáticos. Surpreendentemente, muitas das famílias de insetos foram encontradas em ambos os tipos de rochas, sugerindo que a diversidade de insetos não sofreu grandes flutuações ao longo do tempo.
Além disso, observou-se que as rochas amarelo-claro indicam períodos mais úmidos, com mais insetos aquáticos e semi-aquáticos. Isso sugere que essas rochas foram formadas durante inundações ou durante o surgimento de zonas úmidas e pântanos. Já a maioria das famílias de insetos registradas nos calcários cinza-escuro representam indivíduos terrestres associados a áreas de vegetação arbórea ou arbustiva. Evidências de interações inseto-planta também foram encontradas.
Ao examinar a preservação dos insetos, descobriu-se que, nas rochas cinza-escuro, a proporção de fósseis desarticulados (com partes do corpo soltas) era maior. Isso nos faz pensar que esses insetos podem não ser originários do local de onde foram encontrados, podendo ter sido levados para o lago depois de morrerem em terra, por exemplo. Isso também pode ter ocorrido devido a processos físicos e bioquímicos atuantes sobre os sedimentos após a deposição. Já nas rochas amarelo-claro, a proporção de insetos totalmente articulados era maior.
Considerando a literatura taxonômica, o número de espécies dentro dos paleópteros (libélulas, donzelinhas e efêmeras) é maior na paleoentomofauna do Crato do que em outras formações do Cretaceo Inferior. Já para o número de espécies descritas de besouros e vespas, observa-se o contrário, mas ainda não se sabe bem o porquê.
IRINEUDO BEZERRA, Francisco; MENDES, Márcio. A palaeoecological analysis of the Cretaceous (Aptian) insect fauna of the Crato Formation, Brazil. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, [s. l.], v. 641, ed. ISSN 0031-0182, 2024. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0031018224001238. Acesso em: 21 fev. 2024.