Os camundongos acompanham a humanidade há muito tempo, seja domesticados como pets na era vitoriana ou até mesmo em criadouros nos Estados Unidos do século XX. O primeiro registro de utilização desses animais como modelo experimental, no entanto, data de 1664 quando o inglês Robert Hooke investigou os efeitos da pressão atmosférica no sistema respiratório. Em 1937, o geneticista Clarence Cook Little defendeu o uso de animais com altos padrões genéticos na luta contra o câncer, alavancando de vez a utilização e, consequentemente, a produção de camundongos para a pesquisa. Mas o que torna os camundongos tão aptos para pesquisas sobre saúde humana?

Genética
Análises de DNA constataram que os camundongos compartilham aproximadamente 85% das regiões codificadoras de gene (isto é: aquelas porções do DNA que produzem proteínas nas células) com os humanos. Além disso, esses roedores podem sofrer modificações genéticas induzidas de acordo com o alvo da pesquisa, facilitando a investigação sobre síndromes e mutações de interesse médico.
Sistema nervoso
A estrutura cerebral dos camundongos é muito similar à dos humanos, demonstrando capacidade de aprendizado, comportamentos sociais e consolidação de memória, sendo interesse de pesquisas sobre diversos distúrbios comportamentais e outras doenças de relevância social como o Parkinson e o Alzheimer. Além disso, foram observadas semelhanças no desenvolvimento de neurônios humanos e de camundongos ainda em fase de embrião.
Sistema respiratório
Além de uma mecânica respiratória com frequência e saturação do oxigênio similares aos dos humanos, os pulmões dos camundongos também tem anatomia parecida, utilizando alvéolos para realizar trocas gasosas. Com isso, esses animais não só permitem investigar métodos utilizados em hospitais, como a ventilação mecânica e a traqueostomia, mas também permitem a indução de doenças como a asma e diversas infecções respiratórias de relevância médica.
Sistema digestório e endócrino
Assim como o nosso, o trato digestivo dos camundongos é completo, ou seja, tem boca e ânus, estes animais têm também dois intestinos especializados na absorção de nutrientes e eliminação de resíduos. Além disso, eles possuem glândulas que produzem hormônios similares aos dos humanos e que estão envolvidos na regulação de diversos processos fisiológicos que são alvo do estudo de doenças de extrema importância médica, como a diabetes e a colite.
Sistema reprodutivo
Os camundongos são animais dioicos, ou seja: diferem em macho e fêmea, e alcançam maturidade sexual com apenas 60 dias de vida, os machos têm testículos e as fêmeas ovários. Sua reprodução ocorre por fertilização interna e têm desenvolvimento embrionário no útero. Seu período de gestação relativamente curto - de até 21 - e sua grande ninhada, com uma média de 10 a 12 filhotes, são outros motivos que também os tornam um bom modelo para estudos de fertilidade e desenvolvimento embrionário.
Com seu ciclo de vida curto, seu baixo custo de manutenção, sua fisiologia e hábitos, os camundongos têm uma importância central para a sociedade ao possibilitar avanços científicos que podem ser aplicados na saúde humana, farmacologia e compreensão de doenças complexas.
Esse artigo foi produzido em conjunto por Guilherme Henrique Rodrigues Mattos; Mirielly Ranny de Almeida Paiva Silva; Nathila Mayone Oliveira Lacerda; e Nayma Drielly Granato Da Silva, para o trabalho final da disciplina de Fisiologia Animal Comparada.
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