Você já parou para pensar sobre o porquê nós comemos determinados alimentos?
Nós sabemos que os alimentos são essenciais para a manutenção da vida, o que talvez algumas pessoas não saibam é que os alimentos são considerados os grandes influenciadores para as mudanças que ocorreram durante a evolução. Através da análises da filogenia humana foi possível perceber que ocorreram uma série de alterações anatômicas que foram fundamentais para a evolução do hominídeo a partir da sua alimentação.
Recuando na história, os nossos ancestrais obtinham o seu alimento a partir das árvores e para alcançá-lo se deslocavam pelas suas copas. Porém, as constantes alterações ambientais contribuíram para que florestas que antes eram densas e cheias de árvores dessem lugar para um ambiente de savana em que as árvores já não estavam tão perto assim umas das outras. Essa alteração na paisagem criou um grande espaço entre as árvores, fazendo com que os indivíduos que obtinham alimento a partir delas tivessem o seu modo de alimentar alterado. A aridez das savanas causou uma limitação da disponibilidade de alimentos vegetais comestíveis para os hominídeos da época. E para isso, foi necessário que eles buscassem novas formas de se alimentar.
Inicialmente, acreditava-se que os primeiros hominídeos eram caçadores e que já se alimentavam de carne. Essa primeira hipótese foi sustentada depois que foram encontradas partes do maxilar de um Ramapithecus na Índia, porém, a hipótese foi rapidamente contestada já que apenas o fóssil do maxilar não foi considerado o suficiente para se inferir isso.
Mas aí vem a questão: então com seria possível deduzir o tipo de alimentação dos nossos ancestrais?
A análise da arcada dentária fóssil tem sido utilizada como um auxílio na identificação da dieta de nossos antepassados. Nela se analisa o tamanho, a densidade da camada de esmaltação e presença de estrias. Até mesmo o tamanho e diferenciação de dentes molares, incisivos e pré-molares são usados como fatores de estudo. O tamanho das vísceras também é usado como referência e o formato corporal também é importante nessa determinação.
Um exemplo disso, foram as análises feitas a partir do fóssil de uma exemplar fêmea de Australopithecus, a Lucy, que mostrou que o formato das costelas de Lucy é semelhante ao dos humanos; evidências como essas sustentam a evolução da alimentação entre os hominídeos. A presença de estrias nos dentes dos Australopithecus indica a mastigação de alimentos de origem vegetal como folhas, frutos maduros, tubérculos e raízes, assim como, a presença de molares achatados sustentam a hipótese de uma alimentação trituradora.
Ossos e pedras também são relatados como evidências relacionadas ao modo de alimentação. Acredita-se que os ossos eram utilizados pelos Homo habilis para a escavação do solo para obtenção de raízes e as pedras eram utilizadas para o corte da carne e quebra de ossos para obter o tutano. Nos Homo erectus foi observado o cozimento de alimentos e essa hipótese é sustentada por meio de vestígios de cinzas e ossos chamuscados que poderiam indicar possíveis fogueiras para cozimento do alimento. Estima-se que a mudança da alimentação de crua para a cozida tenha ocorrido por volta de 2,6 milhões de anos e só foi possível a partir do domínio do fogo. Essa mudança contribui para que atualmente nós humanos não consigamos processar bem determinados alimentos crus.
O registro do consumo de carne foi observado em Homo habilis e Homo erectus após serem encontrados nas cavernas, ossos de animais com marcas de cortes. Nos Homo neanderthalensis, a partir de análises laboratoriais, foi observada a presença de altos níveis de uma proteína, que foi atribuída ao alto consumo de carne desse grupo. Durante a evolução, “nossa boca, dentes e tubo digestório passaram a ser pequenos e nos adaptamos a alimentos macios, calóricos, com baixo teor de fibras e alta digestibilidade de alimentos cozidos”(AIELLO & WHEELER apud TELES, BELO & SILVA, 2017).
Vemos que o pontapé inicial para a mudança alimentar em nossos ancestrais foi determinada por fatores ambientais, já que esse processo de transformação começou a ocorrer a partir do desaparecimento da densa vegetação e o estabelecimento de savanas. Os diferentes tipos de alimentos e técnicas desempenhadas pelos hominídeos contribuíram na adaptação dos humanos a outras fontes alimentares.
Essa foi a nossa curiosidade do dia e espero que tenha gostado!
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Referências bibliográficas Teles, K. I.; Belo, L. L. A.; Silva, H. M. (2017). Efeitos da alimentação na evolução humana: uma revisão. Conexão Ciência, Fundação Educacional de Formiga (FUOM), v. 12, n. 3, p. 93-105. DOI:10.24862/cco.v12i3.580