“Como uma velha árvore registra em seu tronco a memória de seu crescimento e de sua vida, assim também a Terra guarda a memória do seu passado”. Este é um trecho da Carta de Digne, feito no 1º Simpósio Internacional sobre a Proteção do Patrimônio Geológico, entre os dias 11 e 13 de junho de 1991, na França. O trecho ressalta que, antes da história do homem, há muita história natural da terra a ser revelada e protegida. E, nesta linha de raciocínio, os registros fósseis representam um ponto de vista por onde podemos ver o passado da terra, e assim, o nosso próprio passado.
Ao longo do tempo, o significado de fóssil foi alterado por diversas vezes, e entre todos os seus significados que já existiram, temos hoje as definições básicas de (I) Patrimônio histórico, por conseguinte, equiparados a obras de artes construídas pelo homem; (II) objeto de estudo da paleontologia, servindo de instrumento para estudo da história e evolução da vida na terra; (III) bem ou riqueza geológica; (IV) resíduos minerais sob um aspecto econômico. (Abaide, 2009, p. 38-39) Assim, sua origem natural como bem de interesse da paleontologia não afasta os fósseis do seu valor cultural e histórico.
Unimos, então, elementos fundamentais para a junção entre fósseis e arte, os Museus. Sem o espaço físico de tradição milenar da preservação cultural mundial, seria difícil encontrar tanta riqueza de estudos da área da paleontologia, seu surgimento e seu desenvolvimento são estabelecidos ao longo dos tempos de maneira singular. Datada em 1965, temos a primeira ilustração de uma coleção de objetos fósseis expostas em museus, a Arca de Johann Kentmann. Concluímos, até aqui, que arte e paleontologia, possuem a origem similar de exposição e caracterização de objetos em museus, assim como elementos da história, literatura e outras ciências.
Entrando no campo específico da arte, vista como mercadoria nas sociedades capitalistas, ela possui a ideia central de ser um produto, originado a partir de agentes criadores que utilizam matérias ou ideias. E são protegidas por direitos autorais, previsto no Artigo 7º da Lei n.º 9.610 de 1998. A partir dessa ideia central de arte, percebemos que fósseis não seriam, a princípio, objetos de arte, pois em sua formação, não há, necessariamente, participação humana de forma ativa.
No entanto, fósseis podem se transformar em arte, na medida em que se tornam objetos de ação artística, seja pela coleção de objetos fósseis, seja pela paleoarte, (que reconstrói seres vivos do passado por meio de interpretação do que fósseis apresentam) ou pela sua influência no cinema, como conhecemos, a famosa trilogia de Jurassic Park, do diretor Steven Spielberg.
Por fim, percebemos que a paleontologia alimenta a arte, nos museus e nos ambientes cinematográficos, e que a arte também alimenta a paleontologia, visto o exemplo do fóssil australopithecus mais importante da história, Lucy, que apresenta cerca de três milhões de anos e recebeu este nome em virtude de uma famosa música dos Beatles, “Lucy in the Sky Whit Diamonds”. Temos, então, uma fronteira entre arte e paleontologia que se funde ao longo da história da terra, e ambos são dispostos como bens culturais, e seguem protegidos pela Constituição Federal de 1988.
Escrito por Thais Stany de Oliveira Linhares, em 08/11/2023 as 18:04hrs.