Muito se fala dentro e fora da comunidade científica sobre o rápido avanço do rompimento da camada de ozônio e seus efeitos catastróficos para o ecossistema mundial. O aquecimento global é um dos principais sintomas desse evento e traz consequências diretas ao equilíbrio ambiental e à sobrevivência das espécies, alarmando principalmente discussões sobre o impacto das mudanças climáticas na espécie humana a curto e longo prazo.
Mas afinal, seria plausível estabelecer ligação entre o atual rompimento da camada de ozônio e uma possível extinção da espécie humana?
Há cerca de 252 milhões de anos acontecia a maior extinção em massa já descoberta pela Paleontologia, que atingiu mais de 95% das espécies marinhas e 70% das terrestres existentes no Permiano, fim da era Paleozoica. A causa inicial dessa devastação é atribuída à ocorrência de inúmeras erupções vulcânicas e à enorme liberação de dióxido de carbono na atmosfera, provocadas muito provavelmente pela mudança da configuração continental do planeta. No entanto, os impactos climáticos foram os principais responsáveis pelo desaparecimento da fauna e da flora: o aquecimento global, a acidificação e anoxia dos oceanos (uma queda na quantidade de oxigênio dissolvido no oceano), além do aumento do nível do mar são fatores diretamente relacionados à aniquilação da vida marinha. Apesar disso, o modo como esses mecanismos afetaram os ecossistemas terrestres permaneceram controversos até a atualidade.
Um estudo realizado no Instituto de Geologia e Paleontologia de Nanjing, na Academia Chinesa de Ciências analisou grãos de pólen fossilizados que datam do período Permiano e apresentou indícios de que o acontecimento que impactou a comunidade de organismos terrestres foi, na realidade, o colapso da camada de ozônio, que elevou a temperatura e a incidência de radiação na superfície. A exposição excessiva à radiação UV-B causa deformações visíveis nos grãos de pólen, que são mensuráveis e indicam a quantidade exorbitante de radiação incidente no solo naquele período. Essa descoberta levou os estudiosos à conclusão de que o fator decisivo na extinção da biodiversidade terrestre no fim do Permiano foi a destruição da camada de ozônio.
Com isso podemos concluir que, apesar de os resultados indicarem um evento passado ocorrido em condições bastante adversas às que vivemos hoje, fica clara a importância de agirmos a fim de desacelerar o processo de poluição atmosférica atual, pois esse pode se tornar um fator decisivo no curso futuro da nossa espécie e de todas as demais.
Artigo referência: Dying in the Sun: Direct evidence for elevated UV-B radiation at the end-Permian mass extinction. Feng Liu, Huiping Peng, John E.A. Marshall, Barry H. Lomax, Benjamin Bomfleur, Matthew S. Kent, Wesley T. Fraser, and Phillip E. Jardine Sci. Adv., 9 (1), eabo6102. DOI: 10.1126/sciadv.abo6102
acesso: https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.abo6102