Do bolor de pão à levedura utilizada para fazer queijo, o reino dos fungos é diverso e fascinante. A grande maioria deles são sapróbios, ou seja, se alimentam de matéria orgânica, sendo fundamentais para a reciclagem de nutrientes no ambiente. Além disso, os fungos modernos frequentemente formam relações estreitas com as plantas, podendo até mesmo auxiliar-las a conseguir nutrientes.
Um dos elos mais antigos de relações plantas-fungos data de cerca de 400 milhões de anos atrás, envolve uma planta chamada Aglaophyton major, que apresenta características semelhantes às samambaias atuais, pertencentes do grupo das pteridófitas. No entanto, a evidência fóssil de fungos associados a plantas terrestres tem sido notavelmente escassa, provavelmente devido às características intrínsecas dos fungos, como seu tamanho microscópico e seu padrão de decomposição, e aos desafios da preservação fóssil de plantas.
Recentemente, porém, foi encontrado na Formação Morrison, localizada em Utah, EUA um fóssil permineralizado - ou seja, com precipitação de minerais no interior dos tecidos - de madeira com as hifas preservadas. Esse tronco data do Jurássico Superior, e foi identificado como de uma espécie enigmática pertencente a um gênero semelhante ao das coníferas, o Xenoxylon.
Examinando seções finas do fóssil no microscópio, os pesquisadores conseguiram comparar áreas com maior decomposição com outras mais intactas, embora a evidência mais concreta da presença do fungo foi a verificação de um micélio bem preservado. Os padrões de decomposição de fungos modernos chamados de "white rot" ("white rot" são os principais fungos decompositores de lignina, uma substância presente em troncos) é extremamente parecido com o observado, o que sugere que as observações feitas no tronco permineralizado são de um processo de decomposição avançado, e não um mero artefato da fossilização. Além disso, a identificação das hifas permitiu a inclusão desse fungo em um gênero, o Palaeancistrus.
Observando o presente com um objeto do passado, foi possível compreender mais das relações ecológicas do Jurássico Superior, principalmente as entre plantas e fungos. Além disso, o simples tronco fossilizado serviu como uma janela para reconstruir a biodiversidade fúngica tanto em termos temporais quanto geográficos na região.
REFERÊNCIAS:
Xie, A., Gee, C., & Tian, N. (2023). Ancient Basidiomycota in an extinct conifer-like tree, Xenoxylon utahense, and a brief survey of fungi in the Upper Jurassic Morrison Formation, USA. Journal of Paleontology, 97(3), 754-763. doi:10.1017/jpa.2023.12. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/journals/journal-of-paleontology/article/ancient-basidiomycota-in-an-extinct-coniferlike-tree-xenoxylon-utahense-and-a-brief-survey-of-fungi-in-the-upper-jurassic-morrison-formation-usa/88B5C9DCA1FC5A64A1DE09B9F231DEC8 acessado em 02/11/2023.