Os cetáceos, a infraordem da qual as baleias e os golfinhos fazem parte, são os representantes mais famosos quando o assunto é sobre a transição de ambiente entre os animais terrestres e os animais marinhos. Antes quadrúpedes terrestres, esses animais tiveram uma mudança relativamente rápida em sua locomoção para tornarem animais obrigatoriamente nadadores. Como exemplo, tem-se os Pakicetus, cetáceos terrestres basais do início do Eoceno, alimentavam-se de peixes, apresentavam um pescoço alongado e uma anatomia pertencente a animais cursoriais (feitos para correr). Em compensação, os Dorudons, também pertencentes ao Eoceno, já eram nadadores obrigatórios e já pareciam com os nossos cetáceos modernos em seu formato de cauda (barbatana) e pescoço encurtado.
Ao analisar o tamanho do sistema do canal semicircular desses mamíferos, um dos principais órgãos sensitivos invólucros no controle neural da locomoção, descobriram que eles apresentavam o tamanho do arco do canal aproximadamente três vezes menor (em relação ao tamanho corporal) do que o de outros mamíferos. No artigo, compararam 24 canais de diferentes tamanhos de cetáceos já extintos e outras 106 espécies de mamíferos. Foi visto que o canal semicircular dos cetáceos era, em média, três vezes menor quando comparados com mamíferos de tamanhos parecidos. Antes, o tamanho reduzido do canal era considerado uma condição vestigial, tendo sido perdido em decorrência dos movimentos limitados do pescoço (vértebra cervical fusionada ou diminuída) e motilidade dos olhos.
Além disso, esse novo regime sensorial - incompatível com a locomoção terrestre - se desenvolveu rápido e cedo na evolução dos cetáceos. O tamanho do canal semicircular, um conjunto de três tubos ósseos que são interligados e repletos de endolinfa, é determinante para a sensibilidade e também já foi descoberta sua correlação a um certo grau com a agilidade na locomoção. Uma explicação para o tamanho diminuto do canal semicircular deve-se à redução da sensibilidade para combinar com os altos níveis de motilidade angular não compensatória.
Esta motilidade é compatível com um comportamento muito característico de cetáceos viventes, sendo ele a rápida rotação corporal ao realizar acrobacias. Essas acrobacias foram possíveis de ser feitas no ambiente aquático e não em terra por causa da ação da atração gravitacional e a não mais necessidade de contato com o solo para se locomover.
Algo interessante é que o tamanho da cóclea em fósseis de cetáceos é muito parecido em tamanho com o de outros mamíferos. Vale ressaltar que o canal semicircular da baleia azul (balaenoptera musculus)consegue ser menor que o de um ser humano! E o do golfinho nariz de garrafa(tursiops truncatus) é notavelmente menor que o do rato marrom/ratazana!