Legenda e fonte da imagem: Representação de Deinotherium em seu habitat (Heinrich Harder, 1916). https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Dinotherium.jpg. Acessado em: 03/04/2024.
A hipoplasia do esmalte (HE) é uma anomalia dental que diz respeito à formação incompleta ou defeituosa do esmalte dentário. Os registros de HE em fósseis são ideais para indicar alterações na fisiologia de um animal durante o desenvolvimento do dente, pela facilidade das análises e reconstruções dentárias, sendo excelentes evidências utilizadas por paleontólogos para reconstruir paleoambientes e eventuais mudanças regionais. A HE carrega indícios de estressores, sejam fisiológicos, deficiências de minerais, nascimentos prematuros ou doenças, o que tem grande ocorrência em mamíferos já extintos! Dessa forma, ao analisar o esmalte dentário de mamíferos, os paleontólogos analisam as possibilidades de evolução ou extinção desses animais em determinados ambientes.
No presente artigo, os cientistas paquistaneses avaliaram 52 dentes de 35 animais das espécies Deinotherium pentapotamiae e D. indicum, grandes mamíferos herbívoros, originários do Mioceno Médio (15,2–11,2 Ma) do Siwalik no Paquistão, em que, a partir dos estudos da HE e comparações com a família Proboscidea do mesmo local, foi possível analisar o paleoambiente do Mioceno Médio do Siwalik e suas mudanças ambientais.
Ambas as espécies viviam em habitats parecidos e mantinham uma dieta semelhante, se alimentando de vegetação macia com dentes apropriados para pastagem, porém, ao longo de sua existência, a ocorrência de HE aumentou entre as espécies, em 13 de 52 dentes avaliados no estudo, cerca de 25%, evidenciaram hipoplasia do esmalte, sendo mais frequentes em molares (30,30%) em relação aos pré-molares (21,05%) indicando que o estresse sofrido por esses animais ocorreu na fase adulta possivelmente em decorrência das mudanças ambientais e competição.
Os fósseis avaliados neste estudo foram descobertos do Mioceno Médio (15,2-10,8 Ma) do Paquistão, pela análise isotópica de carbono e oxigênio dos ossos dos mamíferos, junto da análise de HE, foi possível concluir que houve uma grande mudança no habitat desses animais: as florestas úmidas foram substituídas por ambientes mais secos com gramíneas (savanas) e ainda mais tarde no fim do Mioceno médio, houve um grande aumento da aridez no ambiente. Essa mudança foi decorrente da diminuição da precipitação anual no habitat dos animais, o que causou uma grande alteração na vegetação e por consequência alterando a sua dieta (totalmente dependentes das plantas), aumentando os níveis de estresse sofridos, evidenciados pelo aumento da HE em seus dentes.
Assim, com o encolhimento do habitat da família, os Deinotherideos diminuíram a sua diversidade ao longo do Mioceno Tardio. Os animais da espécie Deinotherium indicum, estes eram relativamente maiores em relação a D. pentapotamiae, ainda conseguiram migrar para outros ambientes, alguns dos seus fósseis foram encontrados na Índia! Portanto, com a grande mudança ambiental que alterou os padrões vegetacionais evidenciados na hipoplasia do esmalte dentário da família, os Deinotherideos foram extintos do Siwalik do Paquistão.
Texto fonte: AMEEN, Muhammad et al. Appraisal of dental enamel hypoplasia in the Middle Miocene deinotheriidae: Implications of the Siwalik paleoenvironment of Pakistan. Rev. Bras. Paleontol, v. 24, n. 4, p. 357-368, 2021.
Disponível em: https://sbpbrasil.org/publications/index.php/rbp/article/view/80/93.
Acessado em 24/03/2024.