
Em 1892, foi descrito um tipo de fóssil peculiar. Eram grandes (de 2,10 a 2,75 metros em média) estruturas em espiral embaixo da terra, batizadas, portanto, de hélices do demônio, ou em latim, Daemonelix. Pensou-se primeiramente que seriam fósseis de plantas ou algas, tendo sido encontradas estruturas vegetais em sua superfície. Mas as estruturas estranhas também continham elementos que não costumamos achar em plantas. Primeiramente, as hélices possuíam uma estrutura apêndice linear que se estendia numa inclinação em direção a superfície; algo que parecia uma espécie de raiz ou rizoma, mas não encaixava na descrição muito bem. Além disso, ossos! Ossos principalmente pertencentes a uma espécie de castor norte-americano que viveu entre o fim do Oligoceno e o início do Mioceno, o Palaeocastor.

Acontece que esses fósseis não eram seres vivos em si, eram rastros da existência e comportamento de mamíferos antigos. Eram tocas! Tocas de Paleocastor, que cavava túneis profundos em espiral usando os dentes e garras. As hélices também continham restos de outros animais, alguns carnívoros, como o pequeno mamífero Zodiolestes, e outros com o perfil mais próximo a Paleocastor, como o esquilo subterrâneo Gregorymys. Ou seja, Daemonelix revela possíveis interações ecológicas que aconteciam nessas tocas. Zodiolestes era um possível predador de Paaleocastor, enquanto Gregorymys podia ser oportunista, se aproveitando das tocas já estruturadas.

Mas porque uma espiral? Os castores viviam na porção linear das tocas (o que se chamou de rizoma), onde não havia hélices. Então, as espirais (que davam em média 9 voltas por toca) serviam provavelmente para conectar a porção subterrânea onde eles viviam com o meio externo, como escadas em espiral. Os conjuntos de tocas eram organizadas em “cidades”, onde se aglomeravam os Palaeocastors, indicando grande socialidade.
Muito do que sabemos sobre o estilo de vida desses animais é devido a esses fósseis, que não são ossos nem restos orgânicos, mas buracos. Eles foram preenchidos por matéria vegetal, o que despistou os primeiros pesquisadores, mas possibilitou a conservação do formato original. E assim, puderam nos contar essa história.

Referência:
Martin, L. D., & Bennett, D. (1977). The burrows of the miocene beaver palaeocastor, Western Nebraska, U.S.A. Semantic Scholar. https://doi.org/10.1016/0031-0182(77)90027-X