As abelhas, são insetos que desempenham um papel muito importante na manutenção do ecossistema, pois são responsáveis pela polinização (no qual, os grãos de pólen são transportados das anteras (aparelho reprodutor masculino) até o estigma (aparelho reprodutor feminino), onde podem germinar e fertilizar o óvulo) de muitas plantas, incluindo aquelas que produzem alimentos, e que fazem parte da nossa dieta diária. Com mais de 20.000 espécies conhecidas em todo o mundo, as abelhas variam em tamanho, cor e comportamento, mas todas elas são vitais para a biodiversidade, garantindo a reprodução de muitas espécies vegetais. Ademais, acredita-se que estes insetos, ao longo do tempo, tenham se adaptado morfologicamente para utilizarem de forma mais eficiente os produtos vegetais.
Embora se tenha conhecimento das adaptações sofridas pelas abelhas ao longo do tempo, ainda há uma questão sem resposta: quais modificações morfológicas as tornaram palinívoras, ou seja, comedores de pólen?. Isso porque acredita-se que as abelhas evoluíram a partir de vespas carnívoras, devido a evidências morfológicas, moleculares e comportamentais, o que torna ainda mais intrigante o surgimento dessa nova dieta alimentar, e quais características permitiram essa mudança. Dessa forma, é importante destacar que existem muitos registros fósseis de abelhas, mas que datam ser de depósitos cenozóicos, e essas se assemelham às abelhas atuais. No entanto, acredita-se que fósseis em âmbar que datam ser do Cretáceo podem conter características importantes, inclusive quanto às mudanças morfológicas que diferem linhagens de vespas predadoras e abelhas coletoras de pólen. Neste sentido, o achado de abelha associada em âmbar birmanês do Cretáceo médio (no qual é falado no presente estudo), que é de aproximadamente de 100 milhões de anos, é de grande importância para a paleontologia, e pode ajudar a esclarecer muitas dúvidas quanto às adaptações morfológicas sofridas. Além da abelha associada em âmbar birmanês do Cretáceo médio, é possível observar características adicionais como a presença de grãos de pólen em várias regiões do corpo, como nas garras e tarsos das pernas, o que sugere que Discoscapa tenha visitado algumas flores. Além disso, a presença de besouros triungulinos (larvas de besouro- se reúnem em flores e se prendem às abelhas visitantes) no mesmo pedaço de âmbar oferece evidência adicional de que a abelha fóssil esteve em contato com as flores.
Em suma, a espécie Discoscapa apicula, descoberta em uma mina em Myanmar, é considerada uma descoberta significativa para a paleontologia, pois detalha e confirma o que já se acreditava anteriormente. Essa abelha primitiva é vista como um importante marco na evolução das abelhas, visto que apresenta características tanto de abelhas atuais quanto de vespas, das quais se acredita que as abelhas evoluíram. Além disso, foram encontradas características únicas que não se encontram nos dois grupos mencionados, mas que estão presentes na nova família de abelhas, Discoscapidae, como a presença de escapo bifurcado. A descoberta de Discoscapidae fam. nov. pode, portanto, ajudar a esclarecer muitas questões relacionadas à evolução das abelhas e sua relação com as plantas no passado, além de ser uma importante contribuição para a paleontologia.

A imagem mostra a espécie de abelha, Discoscapa apicula, em âmbar birmanês. FIG A Podemos ver a lateral direita do corpo do inseto. As setas destacam a presença de triungulinas de besouros (larvas). FIG B Lateral esquerda do corpo da abelha.
Referência: Poinar, Jorge, 2020, Discoscapidae fam. nov. (Hymenoptera: Apoidea), a new family of stem lineage bees with associated beetle triungulins in mid-Cretaceous Burmese amber, BioOne, Paleodiversity, v.13(1):p.1-9. DOI: https://doi.org/10.18476/pale.v13.a1 Disponível em: https://bioone.org/journals/Palaeodiversity/volume-13/issue-1/pale.v13.a1/Discoscapidae-fam-nov-Hymenoptera--Apoidea-a-new-family-of/10.18476/pale.v13.a1.full acessado em: 07/04/2023