As corujas têm uma presença marcante na história da humanidade, sendo associadas a diversas culturas ao longo do tempo. Na mitologia grega, por exemplo, eram consideradas símbolos de sabedoria, enquanto em algumas crenças do Oriente Médio eram associadas à morte. O misticismo associado às corujas frequentemente foi atribuído ao seu hábito de vida noturno, que é comum na maioria das espécies conhecidas atualmente. No entanto, novas evidências têm surgido recentemente, revelando padrões de atividade diurna na história evolutiva desses animais.
Na Bacia de Linxia, na China, foi encontrado o fóssil conservado de uma coruja que viveu há mais de 6 milhões de anos atrás, no Mioceno, apresentando diversas características que apontam para um hábito diurno do animal. A espécie, denominada Miosurnia diurna, foi submetida a análises estruturais, principalmente voltadas ao seu aparelho ocular, sendo realizada a reconstrução e comparação desta estrutura com outras aves e até mesmo alguns répteis.
Dessa forma, após observação dos dados encontrados, foi visto que a Misournia diurna apresentava muitas semelhanças com corujas do grupo Surniini, o qual contempla as espécies de corujas diurnas atuais. Essa descoberta ajudou a refutar a hipótese de que hábitos não noturnos em corujas foram adquiridos recentemente, sustentando a existência de um ancestral diurno antigo no grupo.
Os pesquisadores apontaram o ambiente e o período em que este animal era encontrado como uma possível hipótese para o desenvolvimento de atividades voltadas para períodos de luz solar neste grupo. De acordo com os cientistas, o resfriamento e a expansão das estepes (áreas de vegetação rasteira ampla) observados no final do Mioceno podem ter impactado nos hábitos alimentares das corujas naquela época. A mudança nas temperaturas teria levado as presas das corujas a serem mais ativas durante os períodos de insolação, favorecendo estratégias diurnas neste grupo de aves.
Nesse contexto, fica evidente a importância da paleontologia para elucidar e aprimorar a compreensão da história evolutiva dos seres vivos, sendo o caso apresentado apenas um dos muitos já estudados.
