“Atenção para clima quente e úmido: temperatura média anual (TMA) de 22,1 a 22,8 ºC e precipitação média anual (PMA) de 566-831 mm para o município de Jaguariúna. TMA de 24,6 a 25,1 ºC e uma PMA de 747 a 961 mm para o município de Vargem Grande do Sul.” Assim seria uma possível previsão meteorológica informando o clima dessas regiões, milhares de anos atrás.
Imagem 1: Desenho de mamute apresentando a "previsão do clima" em mapa indicando a localização das floras fósseis de Jaguariúna e do Jazigo Vargem Grande do Sul, Formação Rio Claro, Brasil.
Fonte: Santiago (2022). Alterada por Ana Beatriz Gualberto
Mas afinal, como é possível saber como era o clima há milhares de anos, uma época que remete ao Pleistoceno (época entre 2,5 milhões e 11,7 mil anos atrás)?
Para responder a essa pergunta, vários paleontólogos e diversos outros cientistas reuniram esforços e, a partir de estudos de folhas fósseis encontradas nos municípios de Jaguariúna e Vargem Grande do Sul, no estado de São Paulo, encontraram algumas pistas de como era esse paleoclima.
Os municípios onde os fósseis foram encontrados correspondem à região de Formação Rio Claro, onde há uma grande riqueza de fósseis vegetais. Essa região apresenta sedimentos areno-argilosos e as folhas fósseis encontradas foram possivelmente depositadas em pântanos, rios ou planícies de inundação.
Para chegar aos resultados encontrados, os cientistas analisaram as folhas fósseis, porque elas são indicadores confiáveis para reconstruir os climas de ambientes antigos, já que são estruturas muito sensíveis às condições ambientais.
Assim, a temperatura média anual e a precipitação média anual, são inferidas pela análise da margem foliar e do tamanho da folha fóssil, respectivamente. Nesse estudo foram utilizadas folhas de angiospermas dicotiledôneas (plantas capazes de produzirem flores e frutos que possuem dois cotilédones na semente).
A partir dos dados analisados foi possível inferir a TMA e a PMA, como mencionado a cima.
Além disso, a partir da observação do tipo de planta encontrado e das características das folhas, foi possível dizer que as floras fósseis estudadas representam o ancestral de um dos tipos de vegetação da Floresta Atlântica.
Esses estudos são fundamentais para reconstruir a formação histórica de biomas tão importantes quanto a Floresta Atlântica. Assim é possível compreender a dinâmica vegetacional e climática, bem como a riqueza de sua biodiversidade.
Referência: Santiago, F., Jurigan, I., & Ricardi-Branco, F. (2022). Interpretação paleoclimática com base na análise da fisionomia foliar de duas floras pleistocênicas, Formação Rio Claro, São Paulo, Brasil. Revista Brasileira De Paleontologia, 25(3), 219–228. https://doi.org/10.4072/rbp.2022.3.05