Substantivo feminino, caverna significa cavidade natural e subterrânea geralmente formada em terrenos rochosos, gruta. Ou segundo a legislação brasileira, cavernas são quaisquer cavidades naturais adentráveis pelo homem (BRASIL, 1990).
A atenção voltada para as cavernas se da principalmente por serem ecossistemas muito diferenciados, possuírem características climáticas estáveis (temperatura e umidade) e o principal atributo responsável pela especialização da vida existente ali é a falta completa de luz nos ambientes longe da entrada. É um ambiente com possibilidade de amplos estudos como evolução biológica, antropológica, história geológica e climática.
Seu ecossistema peculiar é extremamente funcional para certos grupos, porém não atrativo para outros como os fotossintetizantes. A ausência desses seres na parte obscura da caverna torna alguns organismos dependentes de recursos orgânicos de origem alóctone, ou, de fora da caverna. A entrada de recursos nas cavernas vem na maioria das vezes por animais transeuntes que se abrigam no seu interior e forrageiam fora, como morcegos. Além disso, ações do vento, da gravidade e da água auxiliam nesse processo. Ainda assim, existem algumas comunidades que utilizam de recursos autóctones, ou, produzidos dentro da caverna.
As comunidades hipógeas (dentro da caverna) são divididas em grupos relacionados nas suas relações ecológicas e evolutivas que apresentam com o ambiente cavernícola. São eles os troglóbios, troglófilos, troglóxenos e acidental. Os troglóbios são aquelas espécies com distribuição restrita no ambiente subterrâneo, estes organismos geralmente apresentam o troglomorfismos, que são características evolutivas convergentes resultantes da seleção à vida nas cavernas (alongamento de apêndices locomotores e sensoriais, despigmentação, ausência de olhos, aumento do número de órgãos sensoriais, redução da prole, resistência a oligotrofia). O grupo dos troglófilos são aqueles que possuem espécies em condições viáveis tanto no interior da caverna como nos ambientes epígeos (fora da caverna). Os troglóxenos são organismos que estão associados as cavernas mas precisam frequentar o ambiente epígeo para realização de alguma atividade biológica, como alimentação e reprodução. Os grupos acidentais são de espécies que frequentam o ambiente cavernal esporadicamente ou acidentalmente mas não consegue estabelecer lá dentro uma condição viável.
Muito ainda deve ser estudado sobre as comunidades cavernícolas neotropicais e sua interação com o ambiente, pois por uma questão ecológica entende-se que alguns fatores influenciam na estruturação dessas comunidades. Como por exemplo a área da caverna influenciando na disponibilidade de habitat e nicho, o tipo de rocha que a caverna se insere, a presença ou não de rios responsáveis por carregar matéria orgânica e indivíduos para dentro da caverna, entre outros possíveis fatores ecológicos.
Pouco se sabe sobre a distribuição dessas cavernas ao longo do Brasil. Além disso, existe um outro problema relacionado a extração mineral, pois a maior parte das cavernas se formam em rochas de alto valor econômico, como calcário e formações ferríferas, e isso tem colocado em risco muitas cavernas espalhadas pelo Brasil e principalmente em Minas Gerais. Não podemos esquecer também da atividade turística responsável também pela não preservação dos ambientes cavernais. Existem algumas políticas de preservação espeleológicas como decretos do Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 1990, 2008) e CONAMA (BRASIL, 1987, 2004) que obrigam estudo espeleológico antes da implementação da mineração e outras atividades. A partir dessas políticas existem algumas unidades de conversação desenvolvidas exatamente para a preservação de algum espaço contendo várias cavernas, como acontece no Parque Nacional da Furna Feia no Rio Grande do Norte.
Parque Nacional da Furna Feira. Fonte: https://assecom.ufersa.edu.br/2016/07/28/furna-feia-laboratorio-natural-para-pesquisas-cientificas/
É importante que se entenda todo o funcionamento de um ecossistema cavernícola para que hajam políticas de preservação especificas de modo a evitar possível extinção do mesmo, para isso é fundamental o aumento dos estudos espeleológicos no Brasil.
Referências bibliográficas:
BRASIL. 2004. Resolução CONAMA No 347, de 10 de setembro de 2004. Diário oficial da união. Brasil.
BRASIL. 2008. Decreto No 6.640, de 07 de novembro de 2008. Diário Oficial da União, Brasil. Brasil. 2009. Instrução Normativa No 2, de 20 de agosto de 2009. Ministério do Meio Ambiente, Brasil.
PRAUS, Xavier. Ecologia de cavernas. Anais VII Congresso de Ecologia do Brasil, SEB: Caxambu, 2007, p. 1.
RABELO, Lucas Mendes. Ecologia e conservação das cavernas no eixo Centro-norte de Minas Gerais, f. 100, Lavras, 2016. Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Lavras, UFLA, Lavras, MG.