Dentre os organismos no chamado Reino Animal, o grupo dos insetos é um dos maiores e mais diversos! Esses pequenos possuem enorme importância para a vida como conhecemos no planeta, seja pelos serviços ecossistêmicos que eles desempenham (como a polinização), por seu papel na transmissão de doenças, por suas interações com plantas e outros organismos, entre outros aspectos. Sua grande biodiversidade inclui diversos subgrupos, chamadas ordens, dentre elas a ordem Neuroptera.
A ordem Neuroptera é bastante diversa e conhecida por seus membros terem asas transparentes. Dentro desse grupo, temos uma família já extinta muito famosa: Kalligrammatidae, que habitou o planeta na Era Mesozoica - entre o período Jurássico e Cretáceo - mais de 170 milhões de anos atrás! Essa família se destaca por incluir alguns dos maiores neuroptera que já existiram, havendo estimativas de espécies que podem ter atingido até 16cm de comprimento de asa! Além disso, uma característica interessante desses insetos é a presença de ocelos, que são manchas arredondadas, nas asas.
Em 2021, foi publicado, na revista Cretaceous Research, um artigo dos pesquisadores Renato J.P. Machado, André V.L. Freitas e Guilherme C. Ribeiro, em que se descrevia uma nova espécie de Kalligrammatidae. O fóssil em que se baseia essa pesquisa foi encontrado na Formação Crato, um paleoambiente importante localizado no nordeste do Brasil. A partir dele, os autores caracterizaram uma nova espécie - com o nome Makarkinia irmae - e analisaram suas relações evolutivas dentro dessa família. Além disso, foi discutida a questão da presença do ocelo na asa posterior desse inseto, comparando com o conhecimento que temos sobre os lepidópteros atuais: borboletas e mariposas.
Dentro da ordem Neuroptera, o único outro grupo conhecido que compartilha a presença de ocelos nas asas é um gênero vivo muito raro: Pseudimares! Assim, é comum que os Kalligrammatidae sejam comparados com o grupo das borboletas, que é conhecido por ter essa mesma característica. Os autores do artigo concordam com a hipótese de evolução paralela com a ordem Lepidoptera, em que ambos os grupos alcançaram de forma independente caracteres parecidos. Porém, na maioria das borboletas diurnas, como a família Satyrinae, os ocelos são pequenos e localizados na borda das asas. Os ocelos em Kalligrammatidae são maiores e centralizados, como ocorre em muitas mariposas noturnas, por exemplo a família Saturniidae.
Assim, no artigo é apresentado que os integrantes de Kalligrammatidae eram, na verdade, ecologicamente convergentes com mariposas. Ou seja, eles independentemente foram selecionados de acordo com certas características, sendo noturnos e usando os ocelos para evitar a predação, provavelmente de pterossauros! Entre os Neuroptera, aquele único grupo que apresenta ocelos - o inseto do gênero Pseudimares - é noturno, reforçando essa teoria!
Essa é uma descoberta importante que contribui para o conhecimento que temos da família extinta Kalligrammatidae, tanto em relação à sua divisão em subgrupos quanto relativo à ecologia desses insetos. Além disso, essa pesquisa enriquece nossa compreensão da relação desses animais extintos com a época e o local em que eles existiram!
Artigo fonte: Renato J.P. Machado, André V.L. Freitas, Guilherme C. Ribeiro. 2021. A new giant species of the remarkable extinct family Kalligrammatidae (Insecta: Neuroptera) from the Lower Cretaceous Crato Formation of Brazil. Cretaceous Research, Volume 120. 104724, ISSN 0195-6671. https://doi.org/10.1016/j.cretres.2020.104724. Disponível em: <https://www-sciencedirect.ez27.periodicos.capes.gov.br/science/article/pii/S0195667120304110?via%3Dihub>.