Conhecer a nossa ancestralidade é uma curiosidade de muitos, porém não é uma tarefa fácil, pois precisamos de encontrar fósseis com preservação e em quantidade suficiente para fazer inferências estatísticas com maior grau de confiabilidade, e quanto maior o intervalo de tempo, considerando uma escala de milhões de anos, maior a chance de perder informações de determinados fósseis. É aí que os microfósseis entram como protagonistas dessa história. Microfósseis constituem um grupo de organismos com tamanhos que variam de acordo com o grupo estudado, mas no geral são muito pequenos. Costumam ser encontrados em grandes quantidades, gerando um maior índice de confiabilidade estatística para os paleontólogos durante a reconstrução de informações sobre o passado. Entre os participantes desse curioso grupo, pode-se citar: dinoflagelados, foraminíferos, ostracodes e até mesmo grãos de pólen.
O grande grupo dos deuterostômios inclui diversos outros grupos, os quais possuem em comum características embrionárias peculiares: forma da larva, desenvolvimento do celoma e a boca do adulto não é originada pelo blastóporo, um aspecto muito importante que os diferencia do grupo dos protostomados. Entre os deuterostomados, está o grupo dos vertebrados, o qual inclui os Homo sapiens. Estudos indicam que esse superfilo (deuterostomados) se diversificaram por volta de 510-520 milhões de anos atrás e o conhecimento acerca do deuterostomado mais antigo ainda segue incerta.
Estudos liderados por Simon Conway (2017) trouxeram novas informações sobre um possível parente mais antigo dos Vertebrados encontrado no Sul da China nas formações de Kuanchuanpu do período Cambriano. Se trata de um microfóssil de tamanho milimétrico, chamado Saccorhytus coronarius. Sua aparência é bem diferente do que estamos acostumados a ver: tem um formato de sacola, uma boca muito proeminente, aberturas cônicas no corpo e nenhum indício de que possui ânus. Os estudos dão fortes indícios sobre o deuterostômio original e um passo chave da evolução desse grupo seria o desenvolvimento de aberturas laterais.
Com essa pesquisa e entre tantas outras, conseguimos ver a importância dos microfósseis que muitas vezes passam despercebidos entre tantas curiosidades da paleontologia. É com os microfósseis que os pesquisadores conseguem fazer reconstruções paleobiológicas e ambientais, e aos poucos, vão reconstruindo a história do mundo antigo.
Fig 3

Fig 3 (a) Reconstrução digital do Saccorhytus coronarius. (b) Árvore filogenética mais parcimoniosa indicando a posição do Saccorhytus coronarius (indicado em vermelho) em relação aos outros grupos.
Referência
Han, J., Morris, S., Ou, Q. et al (2017). Meiofaunal deuterostomes from the basal Cambrian of Shaanxi (China). Nature 542, 228–231. https://doi.org/10.1038/nature21072
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