Como sabemos, a Antártida é um continente com temperaturas rigorosas, assim como é estremado, ou seja, distanciado dos demais. Até porque, diferentemente dos outros, 98% do seu chão é gelo. Contém um inventário paleontológico deficitário no que diz respeito às interações entre plantas e insetos, as quais são vistas como vitais, uma vez que proporcionam um extenso conhecimento sobre a cronologia da cadeia alimentar, temperaturas e clima, diversidade de espécies e funcionamento das populações.
O primeiro fóssil diretamente relacionado a essa interação específica foi encontrado na Ilha Nelson, presente no Arquipélago das Ilhas Shetland do Sul, na Antártida, e possui uma idade entre 60 a 100 milhões de anos, sendo assim pertencente ao período chamado Cretáceo Superior. É uma impressão de folha pertencente ao gênero Nothofagus sp., nativo do respectivo continente, a qual fora encontrada na formação costeira “Fossil Hill”, composta por lava basáltica, arenito e rochas vulcanoclásticas, sendo alcançável apenas em momentos de maré baixa.
Para diferenciar quais folhas haviam sido deterioradas por insetos, alguns pontos foram colocados sob análise, dentre os quais: tecido de reação, o qual ocorre em caso de herbivoria, levando a um aumento do número de células em certas regiões do vegetal (galha), e singularidade das lesões, como a elaboração de túneis (minas). A partir dessa distinção, averiguou-se que, em um grupo de 200 folhas, 15 indicaram interação, havendo os dois modelos de lesão previamente mencionados, galha e minas.
Outros indícios de uma possível interação englobam postura de ovos, túneis, fezes dessecadas e cicatrizes. Importante ressaltar que estes insetos são especialistas, isto é, possuem alimentações e hábitos bastante específicos. Dessa forma, as minas se fazem importantes no que concerne à segurança desse animal contra seus predadores e também, contra a perda de água para o ambiente.
Em razão do pequeno número de táticas utilizadas pelos animais associadas à danificação da folhagem, depreende-se a existência de uma baixa diversidade. Isso pode ser justificado pela ocorrência de instabilidades climáticas, ambientais e ecológicas, assim como pela dificuldade de fossilização. A complexidade da preservação de fósseis reside em episódios de erosão, ventos fortes e movimentação do gelo que causam a decomposição do ser vivo ou destruição de seu fóssil antes que possa ser encontrado.
Outros estudos discorrem sobre a Antártida e seu clima mais ameno que um dia já preponderou, o que é justificado pela elevação de temperatura durante o Cretáceo Superior. Tal fator poderia ter colaborado com a instalação das interações inseto-planta agora neste novo clima, de maneira a coocorrerem no mesmo local, convertendo tal vínculo em importante parte da história do planeta Terra. A releitura dessa história? Escavações e evidências fósseis, exatamente como fora com o caso de Nothofagus sp. e o inseto minador.
Seta branca: galhas. Seta preta: mina.
Referência Bibliográfica:
SANTOS FILHO, E. B. D., BRUM, A. S., SOUZA, G. A. D., FIGUEIREDO, R. G., USMA, C. D., RICETTI, J. H. Z., TREVISAN, C., LEPPE, M., SAYÃO, J. M., LIMA, F. J., OLIVEIRA, G. R., & KELLNER, A. W. A. (2023). First record of insect-plant interaction in Late Cretaceous fossils from Nelson Island (South Shetland Islands Archipelago), Antarctica. Anais Da Academia Brasileira De Ciências, 95, e20231268. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0001-3765202320231268. Acessado em: 23 de março de 2024.