E se os ovos de dinossauros nem sempre foram rígidos como imaginávamos? Imagine se inicialmente esses ovos possuíssem casca mole, como os ovos das tartarugas, e não casca dura, como os ovos das aves? Foi no deserto de Gobi, Mongólia, e na região da Patagônia, Argentina, que o grupo de pesquisa do paleontólogo Mark A. Norell encontrou evidências fósseis que ajudaram a responder essas perguntas.
O ovo de casca calcificada é uma característica importante que define as aves modernas, tendo exercido um papel fundamental na reprodução e sobrevivência delas; tal arquitetura também é encontrada na maioria dos ovos de dinossauros encontrados e descritos. Porém, e se as hipóteses atuais, que assumem uma única origem do ovo calcificado dos dinossauros, como a das aves, estiverem equivocadas?
Na pesquisa liderada pelo paleontólogo Mark A. Norell, essas hipóteses são desafiadas. A partir da descoberta e análise dos ovos de casca mole, encontrados em ninhos de espécies fósseis muito distintas e muito distantes em relação a datação e localização, o grupo pontuou que que muitas linhagens podem sim ter botado ovo macio, e que o ovo rígido pode ter evoluído independentemente várias vezes dentro dos dinossauros.
No trabalho foi analisada uma ninhada com embriões excepcionalmente preservados, atribuída ao herbívoro da Ordem Ornithischia Protoceratops, do Ukhaa Tolgod localizado na Mongólia. Essa ninhada aparenta natureza maleável mesmo quando fossilizada, sugerindo uma composição orgânica não biomineralizada dos ovos.
Fig. 1a | Ovos com casca mole Protoceratops
A amostra do trabalho também incluiu ovos atribuídos ao saurópode basal Mussaurus da Formação Laguna Colorada, pertencente a Ordem Saurischia e um dos primeiros dinossauros herbívoros de pescoço longo. A avaliação histológica desses ovos revelou semelhanças comparáveis às encontradas na ninhada de Protoceratops; sugerindo a presença da casca mole em ambos os casos analisados.
Fig. 1c | Ovos com casca mole Mussaurus
Usando os dados de biomineralização e propriedades mecânicas encontrados a partir das análises, o grupo executou uma reconstrução da filogenia e do estado ancestral dos ovos nos dinossauros. Dessa forma, foi descoberto que o primeiro ovo de dinossauro possuía casca mole; sendo que a casca de ovo calcificada (dura) evoluiu independentemente nas três principais linhagens de dinossauros. Essa ideia é validada também pelo registro fóssil irregular dos ovos calcificados, em termos de diversidade e idade, que só apareceram muito depois da origem do grupo.
Para concluir, a natureza mole e não biomineralizada de ambos os ovos analisados nas amostras fornece evidência direta para a teoria da evolução independente dos ovos calcificados em dinossauros. Portanto, essa descoberta dá uma nova visão sobre a biologia reprodutiva dos dinossauros, que aparenta ser mais primitiva do que pensávamos na sua origem.