Bruna Macedo lima
Diego Crimi de Castro
Isadora Nogueira de Abreu
João Pedro Furtado Pereira
Luíza de Souza Teixeira
Roberta Verônica Palhares
1. Introdução
Collony Colapse Disorder (CCD) ou Síndrome do Desaparecimento das Abelhas é o nome do importante fenômeno que vem causando preocupação na comunidade científica. Relatado pela primeira vez em larga escala nos Estados Unidos, o distúrbio hoje atinge abelhas do mundo todo, incluindo o Brasil. Ironicamente, a ação antrópica visando o sucesso do plantio é o motivo dessa escassez: o uso de agrotóxicos, especialmente neonicotinóides, e pesticidas tem impedido o retorno de abelhas operárias a colmeia, deixando-as abandonadas ainda que cheias de larvas e mel. A síndrome, além de prejudicar a integridade dessa espécie de Hymenoptera e de diversas outras participantes de sua interação mutualística, afeta diretamente o ser humano, visto que a polinização é responsável por grande parte da prosperidade de colheitas e variabilidade genética de plantas.
Entretanto, antes de discutir a fundo a problemática da escassez de abelhas, é necessário entender o ecosserviço prestado por elas: a polinização.
2. A polinização
Na ecologia, a polinização é enquadrada como uma interação trófica positiva de caráter mutualístico, essencial para a perpetuação de espécies. Esse serviço ecossistêmico é prestado gratuitamente por organismos, em especial as abelhas, e traz grandes benefícios aos indivíduos envolvidos. Em um simples ato corriqueiro de busca por néctar, o agente polinizador entra em contato com o pólen presente na estrutura reprodutiva masculina da planta, a antera, e é capaz de transferi-lo para a estrutura reprodutiva feminina de outra planta, o estigma. A polinização, contudo, não é um serviço prestado exclusivamente por animais: quando ausente de um vetor de pólen, característico da polinização biótica, é chamada de abiótica. Por não ser um serviço direcionado como o primeiro caso, a polinização abiótica não demonstra muitas chances de sucesso, mas exemplos desse caso incluem a anemofilia, polinização pelo vento, e a hidrofilia, polinização pela água.
2.1. Como insetos “sabem” polinizar?
O processo de polinização como compreendido atualmente surgiu através de um longo processo evolutivo. A polinização biótica teve início após o período do Cretáceo, com o surgimento de plantas com flores, as Angiospermas. Em Hodiernamente, é possível observar uma discrepância entre flores mais primitivas, marcadas por simetria radial e ausência de fusão de partes, e flores mais adaptadas, com estruturas chamativas e estruturas mais reforçadas para receber organismos polinizadores. Um exemplo desse último caso são os “guias de néctar”, manchas nas flores visíveis apenas sob luz ultravioleta capazes de guiar as abelhas a localização do depósito de néctar. Enquanto as plantas escondem o néctar em estruturas ínferas (abaixo de estruturas reprodutivas) e se adaptam para atrair seu polinizador, com a produção de diferentes pigmentos e odores característicos de uma síndrome floral, os animais se adaptam para melhorar o forrageamento e obtenção das recompensas florais, como o néctar, pólen e óleos específicos. Essa coadaptação constante entre as espécies mutualistas é que permite a perpetuação da interação e evita com que ocorra a superexploração de uma das espécies.
Agora que demonstradas as interações tróficas, qual é o problema?
3. Ecosserviços e escassez de abelhas
Em primeira análise, é importante definir que serviço ambiental é tudo o que se refere aos benefícios que o ser humano pode obter através dos biomas, florestas, matas, fauna e flora. Em suma, os ecosserviços são referentes aos proveitos retirados direta ou indiretamente da natureza, com a finalidade de preencher as condições de permanência da vida na Terra.
A Organização das Nações Unidas (ONU), através da Avaliação Ecossistêmica do Milênio classificou e dividiu os Serviços Ambientais em quatro tipos:
· Serviços de provisão: Conjunto de artigos essenciais que são retirados da natureza, como alimentos, água doce, produtos químicos e madeira.
· Serviços de regulação: Processos naturais que têm a finalidade de ordenar as condições do meio ambiente. Absorção do gás carbônico, controle climático, polinização e gerenciamento de pragas ou doenças, são exemplos desta regulação.
· Serviços culturais: Benefícios referentes a tudo o que não se pode tocar. Como por exemplo a natureza recreativa, educacional, religiosa ou estética.
· Serviços de suporte: São fundamentais na manutenção dos demais serviços ecossistêmicos. A ciclagem de nutrientes, formação do solo e dispersão de sementes são exemplos deste tipo de contribuição.
Deste modo, é evidente que a preservação dos ecossistemas e a consequente manutenção destes serviços se mostra fundamental à existência humana. Contudo, devido a fatores econômicos, muitas vezes esta conservação não foi considerada atrativa, e, por isso, os benefícios ambientais foram prejudicados. Um exemplo deste prejuízo é a Síndrome do Desaparecimento das Abelhas, citada anteriormente no artigo. Mas, qual seria a contribuição destes animais invertebrados na prestação de serviços à natureza?
As abelhas são consideradas as principais polinizadoras em ambientes naturais e agrícolas, e desemprenham um papel importante na manutenção da biodiversidade, pois a polinização é fundamental para a sobrevivência de animais e plantas, além da produção de alimentos no meio rural. Existe uma teoria amplamente aceita, em que as abelhas evoluíram juntamente com as plantas providas de flores. Por consequência, os indivíduos envolvidos neste processo de evolução desenvolveram especializações em conjunto, referentes ao processo de polinização. Desta forma, ao voarem de flor em flor, os insetos supracitados prestam serviços às plantas, contribuindo no processo de dispersão e fertilização cruzada.
A polinização, como dito anteriormente, é classificada como um serviço regulatório, ou seja, é responsável por ordenar as condições ambientais. Este processo é responsável pela produção de alimentos, visto que plantas bem polinizadas produzem frutos de melhor qualidade, maiores peso e número de sementes. Além disso, é estimado que cerca de 90% das árvores tropicais necessitam de polinizadores. Adicionalmente, a produção de biocombustíveis e frutos base da cadeia alimentar de diversos animais são diretamente dependentes dos serviços prestados pelas abelhas, corroborando a afirmação da importância destes indivíduos para o equilíbrio do ecossistema.
3.1.Contribuição das abelhas na agricultura
Um estudo divulgado pelo Journal of Economy Entomology ressaltou a dependência das culturas agrícolas por polinização animal, onde segundo os dados publicados, as abelhas são responsáveis pela polinização de 42% das 57 espécies vegetais mais plantadas no mundo. No Brasil, esta relação de dependência se mostra ainda maior: mais de 60% das plantas cultivadas para alimentação, produção de biodiesel e criação de animais dependem da interação com o polinizador. Em 2018, ficou estimado que os serviços ecossistêmicos prestados pelas abelhas, renderam cerca de 43 milhões de reais na bolsa comercial brasileira, onde os produtos mais vendidos pelo país (soja, café, feijão e laranja), são dependentes de polinização. Além disso, mesmo que algumas commodities não dependam diretamente da ação polinizadora, estas culturas se beneficiam em aumento de pesos da fibra, do número de sementes e de produtividade, com o serviço destes insetos.
O quadro abaixo mostra de maneira mais didática a contribuição de agentes polinizadores, em especial as abelhas, na produção dos suplementos agrícolas mais comercializados no mundo, onde as taxas de dependência se dão da seguinte forma:
0,95= essencial; 0,65= grande; 0,25=pequena.
(Fonte: Tereza C. Giannini em Agricultura e Polinização)
Desta maneira, é evidente a contribuição das abelhas na manutenção do ecossistema e da economia global. Desta forma, vale ressaltar a necessidade de preservar a vida destes importantes insetos ameaçados pela ação antrópica.
I. Dados sobre contribuição das abelhas para variabilidade genética de plantas
As abelhas praticam polinização por melitofilia, que é quando as plantas atraem insetos himenópteros. Esses insetos possuem aparelho bucal de sucção e procuram as plantas para se alimentarem de néctar ou polén.
Como citado anteriormente, polinização é a transição de grãos de polén do estame para o estigma da mesma flor, ou de outra. As plantas dependem desse processo para se reproduzirem e manterem sua variabilidade genética. Apesar de muitos insetos contribuirem com esse sistema, as abelhas têm um diferencial: se alimentam exclusivamente de néctar e polén, então, elas visitam muitas flores por dia. Com isso, as abelhas são mais de 90% dos responsáveis pela polinização.
Considerando a escala global, 87,5% das plantas dependem da polinização animal para se reproduzirem. Em ecossistemas tropicais, essa porcentagem é 94%, e 78% em ecossistemas temperados.
Esses dados mostram que, apesar de a polinização ser um feito involuntário dos animais, é essencial para a vida das plantas, consequentemente, para a vida no planeta.
Os neonicoticóides, também chamados neônicos, são um em meio aos mais variados grupos de inseticidas amplamente utilizados na agricultura e na veterinária. Esses inseticidas foram desenvolvidos na década de 1990 e são geralmente encontrados sob os nomes de: acetamiprido, imidacloprido, tiacloprido, dentre outros. Algumas características físico-químicas dos neonicoticóides fazem com que eles sejam absorvidos pelas raízes das plantas e posteriormente distribuídos por várias outras partes dos vegetais (caules, folhas, frutas, pólen e néctar), tornando-os tóxicos durante um determinado espaço de tempo. Apresentam estrutura química semelhante à nicotina e agem como agonistas da acetilcolina, isso é, ativam os receptores celulares desse neurotransmissor, causando um estímulo constante do sistema nervoso, com consequente hiperexcitação, o que leva à paralisia e morte do organismo. Eles são largamente aplicados porque, aparentemente, apresentam baixa toxicidade para humanos, não sendo isso verdadeiro para muitas outras espécies que são benéficas para a manutenção do equilíbrio ecológico, como as mais variadas espécies de abelhas.
Esses inseticidas causam nas abelhas problemas em sua memória de navegação, causando a desorientação e consequente morte longe das colmeias, já que não conseguem se orientar para a volta. Por isso, muitas vezes, o termo “desaparecimento das abelhas” é utilizado.
Ainda sob a ótica dos prejuízos trazidos pelos neonicoticóides para as abelhas, quando observamos as espécies Apis mellifera africanizada e Scaptotrigona postica, dependendo do tempo de exposição, a morte dessas abelhas não acontece. Porém, há redução na capacidade de locomoção, quando submetidas a diferentes tipos de neonicoticóides. Imidaclorido causa, em A. mellifera, uma redução pela metade da velocidade de voo. Em S. postica, o menor impacto foi a redução a um terço da velocidade normal, expondo as abelhas ao tiacloprido, podendo chegar a menos de 20% da capacidade normal de voo, dessa vez quando são expostas ao imidaclorido. Todos esses dados são em comparação com grupos de abelhas que não tiveram contato com os inseticidas. Além da redução na velocidade, essas abelhas também percorreram distâncias menores, independente do tipo de neonicoticóide ao qual foram expostas. Esses impactos podem resultar em aumento na predação das abelhas, além da diminuição da capacidade polinizadora desses insetos, visto que menores distâncias percorridas em voo implicam em menores áreas potencialmente polinizadas.
De acordo com um levantamento realizado pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), aproximadamente setecentas e setenta milhões de abelhas morreram no Brasil ao longo de um período de quatro anos. Cerca de 92% dessas abelhas estavam contaminadas com neonicoticóides, mas a estimativa é que esse número chegue a um bilhão e meio de abelhas, uma vez que nem todos os apicultores registram as suas perdas.
4. Consequências
Diante do exposto, já se sabe que as abelhas são excelentes polinizadoras e que seu principal ecosserviço prestado é a polinização. No entanto, o uso de pesticidas indiscriminadamente tem afetado a população desses polinizadores. O uso de agrotóxicos serve para evitar a proliferação de pragas nas plantações, de forma que a colheita não seja devastada, porém, no outro lado da balança estão as abelhas- responsáveis por cerca de 75% da polinização das plantas com flores; as quais são atingidas diretamente pelo uso excessivo desse agrotóxico.
Em consequência disso, o efeito inicial de eliminar as pragas agrícola é atingido com sucesso, mas também, o não esperado acontece o qual resulta na morte de outros insetos benéficos. Dessa maneira, com a redução do inseto polinizador a produtividade também é afetada negativamente.
Contudo, a queda de polinizadores não afeta somente o plantio e a sua produtividade, mas também influencia na reprodução das plantas que são polinizadas por esses indivíduos. As abelhas têm função crucial na manutenção e preservação ambiental e devido à redução, sem as abelhas a taxa de polinização reduz, assim como, a produção de frutos, área vegetal, quantidade de alimento disponível e sucessivamente até atingir a cadeia trófica.
Em síntese, na cadeia trófica é preciso que cada nível trófico funcione e esteja dentro da normalidade, e diante dessa problemática a diminuição das abelhas afetam a produtividade agrícola, que afeta a população de insetos benéficos ao plantio, que afeta a reprodução floral, consequentemente, diminuindo a quantidade de alimento disponível aos organismos herbívoros, o qual por sua vez afeta os carnívoros, e assim, desestruturando toda a cadeia.
5. Conclusão
O artigo tem como objetivo salientar a importância das abelhas na cadeia ecológica, principalmente para manutenção da vida vegetal, e enfatizar que o seu desaparecimento é causado sobretudo pelo uso de químicos danosos atrelados aos diversos tipos de plantações movidas pela ação antrópica.
A polinização é uma importante ação de interação abelha/planta, pois permite a reprodução de diversas espécies vegetais que dependem de carreadores para transferência do pólen e formação de uma nova semente, e contribuem para variabilidade genética das plantas.
Porém essa significativa obra da natureza encontra-se em perigo já que é crescente o uso de inseticidas que causam toxicidade ao vegetal e acarretam a morte da abelha por afetar o seu metabolismo.
Desta forma, faz-se necessário um enfoque maior, no combate a extinção dessa autoridade quando se trata da manutenção da vida como um todo, na regulamentação do uso de inseticidas, nos estudos com mais detalhamentos sobre as consequências dos mesmos não só para o homem e sim em todas as instancias dentro da ecologia e também mais informativos sociais tornando explícitas as relações tróficas que envolvem este processo. Referências bibliográficas
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IMPACTO DE INSETICIDAS NEONICOTICOIDES EM ABELHAS AFRICANIZADAS E NATIVAS SEM FERRÃO (HIMENOPTERA: APOIDEA): TOXICIDADE, ALTERAÇÕES NA ATIVIDADE DE LOCOMOÇÃO E RIQUEZA DE ESPÉCIES EM POMARES DE CITROS. Usp, 2019. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11146/tde-03092019-100801/publico/Cynthia_Renata_de_Oliveira_Jacob_versao_revisada.pdf. Acesso em 17/02/2022
Excelente artigo muito bem feito e com muita clareza, trazendo a tona um assunto tão importante e com riqueza detalhes. Parabéns a todos os envolvidos pelo ótimo trabalho
Informativo e essencial! Ótimo artigo 🐝
ameeei, mto bom artigo!!! 😃