Imagem das cores verdadeiras de Marte, tirada em 2007 pelo instrumento OSIRIS, na sonda espacial ESA Rosetta, extraída de: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/0/02/OSIRIS_Mars_true_color.jpg/640px-OSIRIS_Mars_true_color.jpg; representação de um microfóssil encontrado nas amostras do estudo citado (Figura 1, A)
O estudo de microrganismos fósseis é de extrema importância pois permite o entendimento do papel desses organismos no nosso ambiente atual, mas também na Terra antiga, e até mesmo em outros planetas, como Marte. Mas como esses organismos são fossilizados? E como podemos estudar esses fósseis de organismos tão pequenos? Será que existe evidência de vida em Marte?
Primeiramente, vamos entender a fossilização dos microrganismos. Dependendo do local onde vivem, eles podem deixar bioassinaturas na matriz geológica, ou seja, nas rochas e nos espaços entre as partículas que formam as rochas. No artigo “Caracterização de fósseis microbianos incrustados de óxido de ferro”, publicado por Alan Levett em 2020, os autores estudam amostras do Quadrilátero Ferrífero, no estado de Minas Gerais, para entender como os microrganismos se fossilizam naquele ambiente.
Após as coletas, feitas em 15 metros de profundidade, o material foi analisado utilizando algumas técnicas laboratoriais. Entre elas, a microscopia eletrônica de varredura, que permite uma visualização da superfície do material, inclusive uma visualização em três dimensões; e a microscopia de transmissão, que permite uma análise do interior da amostra.
Observou-se que o que é preservado nesses fósseis são as substâncias das cápsulas celulares, que é a estrutura mais externa, e alguns compostos que se ligam a essa porção extracelular. Com a visualização 3D, foi possível afirmar que os minerais - nesse caso, principalmente o óxido de ferro - presentes nas rochas se precipitam, ou seja, formam uma porção sólida, em associação com os microrganismos, o que explica essa preservação das estruturas extracelulares. A microscopia de transmissão revelou que a fossilização desses envelopes celulares segue a sua estrutura, mas a região interna, que é mineralizada em um segundo momento, é fossilizada em direção ao centro da célula.
Com todas essas informações obtidas por este estudo, nota-se que as regiões que possuem muito óxido de ferro são atrativas para a fossilização de microrganismos, visto que esse composto é capaz de precipitar nas estruturas extracelulares, mas também entram na célula e mineralizam a região intracelular de fora para dentro. Para exemplificar o que foi dito anteriormente sobre os dados ambientais que podem ser conquistados por estes microfósseis, os autores do artigo conseguiram concluir que as amostras se fossilizaram em um ambiente de pH entre 5 e 7 e com concentrações reduzidas de oxigênio, uma vez que essas condições permitem o tipo de formação rochosa obtida nas coletas.
E o que tudo isso tem a ver com Marte? Este planeta possui uma superfície que não é habitável para a vida como conhecemos, mas pode ser que haja registros de bioassinaturas na superfície marciana, que é uma superfície rochosa e potencialmente possui óxido de ferro. Então, em 2020, a NASA iniciou uma nova missão Mars Rovers com o objetivo de coletar amostras em até 2 metros de profundidade, buscando bioassinaturas de fossilização microbiana.
E se for encontrado algum microfóssil? Isso indicará que houve vida no planeta em algum momento na história e, estudando essas amostras, será possível obter informações geológicas e climáticas sobre Marte. Assim, a paleontologia é uma ferramenta que pode ajudar a desvendar os mistérios de Marte e todas essas informações podem ser úteis até mesmo para uma futura exploração humana do Planeta Vermelho!
REFERÊNCIA:
LEVETT, Alan; GAGEN, Emma J.; RINTOUL, Llew; et al. (2020). Characterisation of iron oxide encrusted microbial fossils. Scientific Reports, v. 10, n. 1. DOI: 10.1038/s41598-020-66830-z Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7303173/>. Acesso em: 9 abr. 2023.