Legenda: Embrião de mesossauro quase completo isolado encontrado na Formação Mangrullo no Uruguai.
Imagine um mundo há 280 milhões de anos, onde répteis marinhos gigantes nadavam livremente pelos mares e evoluíram de maneiras que nós, seres humanos, mal podemos imaginar.
Um estudo sobre fósseis de embriões de mesossauros - grupo de répteis extintos adaptados ao ambiente aquático e considerados parentes distantes dos répteis que conhecemos hoje - revelou informações fascinantes sobre a biologia reprodutiva desses animais e nos transportou para esse mundo antigo. A pesquisa, intitulada "The oldest known amniotic embryos suggest viviparity in mesosaurs", foi publicada no ano de 2012 na revista científica "Historical Biology" - uma das mais relevantes na área de paleobiologia - pelos pesquisadores Graciela Piñeiro, Jorge Ferigolo, Melitta Meneghe e Michel Laurin.
Os embriões amnióticos - que contém o âmnio, envolvendo e protegendo o embrião - utilizados no estudo são alguns dos mais antigos já encontrados por cientistas. O estudo em questão sugere que os mesossauros poderiam reter seus ovos antes de depositá-los para o nascimento ou, até mesmo, ter filhotes desenvolvendo-se dentro de si antes de nascerem. Neste segundo caso, isso significa que esses répteis marinhos teriam sido vivíparos, ou seja, eram capazes de gerar filhotes dentro do corpo da mãe. Assim, a descoberta de embriões amnióticos tão antigos e preservados nos mostra que a viviparidade pode ter surgido muito antes do que se pensava.
Pertencentes à espécie Mesosaurus tenuidens, os embriões foram encontrados nas Formações Mangrullo no Uruguai e Irati no Brasil muito bem preservados, o que é raro para ovos e embriões que possuem pouco potencial para fossilizar. Essa descoberta incluiu um embrião de mesossauro quase completo isolado, um único embrião dentro de um mesossauro adulto - possivelmente uma fêmea grávida - e vários espécimes mostrando associações entre um adulto e um embrião.
Os cientistas propuseram hipóteses para explicar como tantos embriões foram preservados junto aos adultos. A primeira foi a alta taxa de mortalidade entre as fêmeas grávidas de mesossauros. A segunda foi a retenção de ovos por um período de tempo e a deposição deles um pouco antes da eclosão. Neste caso, a explicação para não terem sido encontradas evidências da casca do ovo era a presença de uma membrana que não permitia sua fossilização. A terceira sugere que poderia haver um cuidado parental mesmo após a eclosão do ovo, o que explicaria os fósseis dos filhotes serem encontrados junto com seus pais. Por fim, uma quarta hipótese considerava um canibalismo, porém, ela logo foi descartada, devido aos fósseis não apresentarem danos superficiais e profundos, o que seria de se esperar no processo de digestão.
Em conclusão à pesquisa, há evidências que os filhotes de mesossauros poderiam ter o seu desenvolvimento embrionário dentro da mãe ou dentro de um ovo que era retido por um período de tempo antes de ser depositado. Em ambos os casos, sugere-se, ainda, a possibilidade de um cuidado parental dos filhotes ou dos ovos.
Esses embriões fossilizados muito antigos nos mostram a biologia reprodutiva desses animais de uma maneira nunca antes vista. Esse estudo é mais uma prova de como a paleontologia pode nos ajudar a entender o passado e a evolução da vida na Terra. Através dos fósseis de mesossauros, podemos ter uma visão fascinante sobre répteis aquáticos que viveram em um mundo muito diferente do nosso e a descoberta de seus embriões nos mostra que ainda há muito a ser descoberto sobre esses animais que habitaram nosso planeta há tantos anos atrás.
Referência Bibliográfica
Piñeiro, G; Ferigolo, J; Meneghel, M; Laurin, M. (2012). The oldest known amniotic embryos suggest viviparity in mesosaurs. Historical Biology, v. 24, n. 6, p. 620-630. Doi: 10.1080/08912963.2012.662230. Disponível em: <https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/08912963.2012.662230?scroll=top&needAccess=true&role=tab>. Acesso em: 01/04/2023