Radiolários extraídos do Complexo Franciscan, Califórnia, USA. Autoria: Benita Murchey.
Os radiolários são um grupo de protozoários que, geralmente, possuem um esqueleto de sílica e são encontrados tanto nas superfícies quanto nas águas mais profundas. Este é um grupo amplo, tendo em vista que é abundante no que se diz respeito a riqueza de espécies, embora ainda possa existir uma parte desse grupo não muito explorada devido a zona em que esse grupo vive.
O aquecimento global e todos os impactos relacionados como as alterações climáticas que envolvem o aumento ou a redução da quantidade de chuva, mudanças no clima e no ambiente de um modo geral, causam um movimento negativo no ecossistema. Devido à isso, muitas espécies acabam se deslocando na tentativa de manter um habitat conforme seu estilo de vida. Tal fato é evidenciado em muitas espécies, inclusive nos radiolários.
Os radiolários são caracterizados por terem uma biogeografia simples, tendo em vista que a maioria das espécies não precisam de luz, ou seja, pode-se encontrar essa espécie desde águas intermediárias quanto em altas profundidades no oceano, mas um fator importante que deve ser considerado e que irá mostrar a sua presença naquele ambiente é quando aquele ambiente também apresenta alimentos disponíveis, ou seja, alimentos que tenha um fluxo nas águas superficiais para águas mais intermediárias onde essas espécies se encontram.
Por se tratar de espécies que podem ocupar habitats em várias latitudes e profundidades, a sua riqueza de espécies, inclusive de fósseis para o final do Neógeno, ainda permanece um tanto quanto obscura. Este estudo realizado por Trubovitz, S., Lazarus, D., Renaudie, J. et al., tem como objetivo registrar as espécies preservadas para melhor compreensão dos impactos evolutivos e ecológicos durante milhões de anos.
Para começar os estudos sobre a estimativa de riqueza de espécies radiolárias nos últimos milhões de anos, o grupo de pesquisadores utilizaram de algumas metodologias e protocolos para que até as espécies mais raras pudessem ser incluídas, tanto em altitudes baixas quanto em altitudes altas.
Com isso, eles fizeram tanto a riqueza de espécie dentro da amostra quanto de forma extrapolada de forma com que eles pudessem no final do estudo chegar a uma estimativa que aproximasse da verdadeira riqueza de espécies. Foram várias as metodologias utilizadas e o trabalho para chegar a uma conclusão foi árduo.
Após feitas as análises e estudos aprofundados nos locais em que se desejavam colher seus resultados, os autores fizeram uma análise comparativa com o último trabalho publicado e eles puderam observar que os níveis de riqueza de espécies no Pacífico permaneceram estáveis comparando o estudo atual com o anterior. Contudo, ao olhar para o grupo de espécies que os autores estudaram no Antártico, eles observaram que as espécies sofreram uma decadência no que se diz respeito a riqueza de espécies, que girou em torno de 35%. A partir desses dados, é possível fazer uma análise para estimar quantas espécies desapareceram ao longo do tempo, ou seja, foram extintas devido a essas mudanças climáticas como já destacadas anteriormente e quantas conseguiram sobreviver.
No decorrer do estudo, os autores viram que muitas espécies do Antártico foram extintas entre o Mioceno superior até o atual. As espécies extintas eram endêmicas e então se direcionavam para as latitudes mais baixas ou cosmopolitas, contudo, o número de espécies que se refugiaram em latitudes baixas era menor do que as extinções. Os autores perceberam que poucas espécies que sofriam os impactos do resfriamento de alta latitude conseguiram ir para os oceanos tropicais mais profundos e eles concluíram que uma possível resposta para isso é porque essas espécies não sobreviveriam, tendo em vista que elas precisavam de luz, por exemplo, para sobreviver.
Além disso, os autores atribuíram o intervalo de extinção do Neógeno as mudanças climáticas bruscas que ocorreram. As altas oscilações de temperatura são fatores que influenciam diretamente na sua sobrevivência. E, de acordo com os estudos realizados, os autores viram que os radiolários possuem um limiar, ou seja, um ponto máximo onde os radiolários toleram essas mudanças de temperatura e eles concluíram que a falta de estabilidade de temperatura pode inclusive levar a extinção da espécie.
Trazendo essa situação para o contexto atual, como o aquecimento global que eleva as temperaturas, pode-se presumir que os radiolários que possuem adaptações ao frio, correm risco de extinção o que implica diretamente diminuição de captura de carbono da atmosfera para o oceano profundo entre outros impactos que podem vir a interferir na cadeia alimentar.
Referência:
Artigo Fonte: Trubovitz, S., Lazarus, D., Renaudie, J. et al. Marine plankton show threshold extinction response to Neogene climate change. Nat Commun 11, 5069 (2020). https://doi.org/10.1038/s41467-020-18879-7
Imagem: https://knoow.net/ciencterravida/biologia/radiozoa-subfilo-radiolario/
Que legal seu texto Danielle! Adorei! Super atual e mostra muito claramente como podemos usar os fósseis para entender os impactos de mudanças globais atuais em escalas temporais maiores. Muito bom!