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Uso medicinal da maconha: como funciona?

Atualizado: 11 de abr. de 2022

A maconha é uma planta que vem sendo utilizada pelo ser humano há milhares de anos para várias finalidades, principalmente por seu valor medicinal. Ela pode ser usada para tratar diversas enfermidades, com menos efeitos colaterais que os remédios convencionais. Afinal, qual é o uso da maconha medicinal?

Fonte: Wikimedia Commons


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Atenção: no texto a seguir iremos falar exclusivamente sobre o uso medicinal da maconha, portanto quando nos referirmos a indicações e contraindicações médicas, estamos falando do uso medicinal e não recreativo.



Cannabis sativa e Homo sapiens: uma relação ancestral


A maconha (Cannabis sativa) foi provavelmente uma das primeiras plantas a ser domesticada pelo ser humano. Ao longo do tempo a planta foi selecionada para gerar variedades que apresentassem propriedades específicas para seus múltiplos usos.


Isso não foi por acaso, a maconha possui diversas aplicações úteis, como fibra vegetal na construção e confecção de vestimentas, alimento, remédio e narcótico.


A maconha é relatada em tratados médicos antiquíssimos de povos como os chineses, indianos, egípcios, gregos e persas, em que é recomendada para uma variedade de usos, principalmente no combate a inflamações e no alívio de dores.


E assim, por muito tempo, preservou-se a relação entre a maconha e o ser humano, até que no século XIX, com a evolução da farmacologia que estuda as substâncias químicas e sua relação com os sistemas biológicos — , diversos outros usos medicinais além dos relatados na antiguidade foram descobertos sobre a maconha.


Porém, no início do século XX, sem quaisquer evidências científicas, a maconha começou a ser altamente controlada e criminalizada ao redor do mundo, por questões econômicas e sociais. Indivíduos provenientes de populações marginalizadas que faziam o uso da maconha, como negros, árabes e latinos, foram estigmatizados e encarcerados.


Uma campanha global iniciada pelos EUA passou a difamar a planta, relacionado-a à criminalidade e violência, até que a maconha fosse gradualmente proibida em praticamente todos os países do mundo. Seu uso recreativo e médico foi totalmente banido, os usuários e pesquisadores foram perseguidos.


Para se ter ideia do absurdo da perseguição, em 1970 a maconha foi classificada pelo governo estadunidense como uma droga do Anexo I, ou seja, como uma substância sem nenhum valor medicinal e alto risco de abuso — onde permanece até hoje.


A revolução canabinóide


Até o início dos anos 60, embora já houvesse uma porção de enfermidades que podiam ser tratadas com a maconha medicinal, muito pouco sabia-se sobre a farmacologia da planta e seu funcionamento no organismo humano. Tudo mudou em 1964, com a descoberta do sistema endocanabinoide pelo químico Raphael Mechoulam.


O Dr. Mechoulam, que havia anteriormente descoberto os canabinoides — substâncias que constituem parte da estrutura química da maconha —, encontrou dentro do corpo humano uma série de receptores e enzimas capazes de produzir de dentro do próprio corpo os canabinóides encontrados na planta: o chamado sistema endocanabinoide.


Esse sistema estaria ligado com a síntese e a degradação de diversas enzimas ligadas a uma variedade de mecanismos fisiológicos, como o sono, a fome e o relaxamento.


Dessa maneira, descobriu-se o papel central do sistema endocanabinoide para a saúde humana, e a relação do seu desequilíbrio com uma variedade de doenças e sintomas, tanto físicos quanto de ordem psíquica.


Com essas descobertas, ampliou-se a compreensão de como a maconha medicinal pode ajudar os pacientes de diversas condições, que seria fornecendo os canabinóides necessários para o tratamento médico através do uso de preparações com base na planta.


Uso medicinal da maconha


Os usos medicinais da maconha são diversos e o número de pesquisas nos últimos anos sobre o assunto não para de aumentar. Como todo medicamento, a maconha medicinal possui indicações e contraindicações. Atualmente, é consenso na área médica que a maconha é uma medicação com praticamente nenhuma contraindicação.


O uso medicinal da maconha apresenta poucos efeitos colaterais indesejáveis, sendo o principal deles o aumento da pressão arterial que aumenta conforme a dosagem utilizada. Sendo assim, é necessário um cuidado especial no uso em pacientes com problemas cardíacos.


Em relação às indicações, elas são variadas. Um efeito bem conhecido do uso medicinal da maconha é como anti-inflamatória e analgésica em casos de dores crônicas, fibromialgia, esclerose múltipla, artrite e artrose.


A maconha medicinal é ótima para tratar doenças autoimunes (como as listadas), por conta de seu potencial imunossupressor que reduz a resposta inflamatória do sistema imunológico e, consequentemente, a dor.


Um dos efeitos mais notáveis do uso medicinal da maconha é em pacientes que sofrem com convulsões e epilepsia. Enquanto os remédios convencionais não são tão eficazes quanto a planta e tendem a deixar os pacientes letárgicos (diminuição da capacidade mental e motivação), a maconha é extremamente eficaz e não promove a letargia, diminuindo expressivamente o quadro de convulsões e melhorando a qualidade de vida dos pacientes.


Outro uso medicinal da maconha que possui excelentes resultados sem apresentar os efeitos colaterais dos remédios convencionais é no caso de doenças neurológicas, como paralisia cerebral, autismo, Parkinson e Alzheimer.


Ao contrário do que diz o senso comum, a maconha não mata neurônios. Na verdade, a maconha estimula a neurogênese e é neuroprotetora, ou seja, estimula a produção de novos neurônios e protege os neurônios da morte celular.


Por fim, vale a pena mencionar o uso medicinal da maconha como importante aliado dos pacientes de câncer. Há pesquisas que indicam o efeito antitumoral da maconha medicinal, que pode atuar na supressão dos tumores e controle da morte celular.


Porém, o principal efeito medicinal da planta no tratamento do câncer é na melhoria da qualidade de vida e inibição dos efeitos colaterais causados pelo tratamento convencional.


Os tratamentos quimio e radioterápicos causam dor, enjoo e falta de apetite. A maconha auxilia na inibição da dor e do enjoo, além de estimular o apetite.


O uso da maconha medicinal auxilia na modulação do humor, o que é muito importante no tratamento do câncer, processo longo e árduo no qual muitos pacientes perdem o ânimo e até mesmo sofrem de quadros de ansiedade e depressão — duas outras condições que podem ser tratadas pela maconha medicinal.


A maconha é considerada por muitos especialistas como o futuro da medicina. É por isso que o Dr. Sidarta Ribeiro, neurocientista e vice-diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, diz: “A maconha está para a medicina do século XXI o que a penicilina esteve para a medicina do século XX”.


Se interessou pelo assunto? A UNIFESP está promovendo o 5º curso online sobre maconha medicinal. Atualmente as inscrições desta edição estão encerradas e o curso em andamento, porém você pode assistir a todas as aulas no no canal do youtube.


Para você professor


Para auxiliar você professor a planejar sua aula, damos exemplos de habilidades que podem ser desenvolvidas com seus alunos baseadas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), a partir do uso deste texto como material de apoio.

Com os objetivos de promover o conhecimento acerca das aplicações do conhecimento científico e tecnológico e suas implicações no mundo, nós indicamos algumas das seguintes habilidades:

Ensino fundamental:

(EF06CI04) Associar a produção de medicamentos e outros materiais sintéticos ao desenvolvimento científico e tecnológico, reconhecendo benefícios e avaliando impactos socioambientais.

Ensino médio:

(EM13CNT304) Analisar e debater situações controversas sobre a aplicação de conhecimentos da área de Ciências da Natureza (tais como tecnologias do DNA, tratamentos com células-tronco, neurotecnologias, produção de tecnologias de defesa, estratégias de controle de pragas, entre outros), com base em argumentos consistentes, legais, éticos e responsáveis, distinguindo diferentes pontos de vista.

(EM13CNT303) Interpretar textos de divulgação científica que tratem de temáticas das Ciências da Natureza, disponíveis em diferentes mídias, considerando a apresentação dos dados, tanto na forma de textos como em equações, gráficos e/ou tabelas, a consistência dos argumentos e a coerência das conclusões, visando construir estratégias de seleção de fontes confiáveis de informações.


Quer saber mais sobre plantas medicinais? Confira o texto do nosso blog que fala sobre o uso de plantas medicinais no dia a dia.



Escrito por: Lucca Ortega

Revisado por: Érika Pinheiro


Referências:


ABRAMS, Donaldo I.; GUZMAN, M. Cannabis in cancer care. Clinical Pharmacology & Therapeutics, v. 97, n. 6, p. 575-586, 2015.


CLARKE, R. C.; MERLIN, M. D. Cannabis: evolution and ethnobotany. University of California Press, 2013.


FACUNDO, J. C. M. & Lima, F. L. A importância do uso medicinal da maconha frente à legislação proibitiva brasileira. Jusbrasil. 2020. https://advfacundo.jusbrasil.com.br/artigos/444607128/a-importancia-do-usomedicinal-da-maconha-frente-a-legislacao-proibitiva-brasileira


MCPARTLAND, John M. Cannabis systematics at the levels of family, genus, and species. Cannabis and cannabinoid research, v. 3, n. 1, p. 203–212, 2018.


MECHOULAM, Raphael; FRIDE, Ester; DI MARZO, Vincenzo. Endocannabinoids. European journal of pharmacology, v. 359, n. 1, p. 1-18, 1998.


SOLIMINI, Renata et al. Neurological disorders in medical use of cannabis: an update. CNS & Neurological Disorders-Drug Targets (Formerly Current Drug Targets-CNS & Neurological Disorders), v. 16, n. 5, p. 527-533, 2017.




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