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Foto do escritorLucca Ortega

O que são Agroflorestas?

Atualizado: 28 de jun. de 2022

Agroflorestas ou Sistemas Agroflorestais (SAFs) são práticas de manejo ancestrais que combinam a produção de espécies florestais com cultivos agrícolas, possibilitando a preservação dos ecossistemas ao mesmo tempo que recursos naturais são produzidos.

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O que são Agroflorestas?


As Agroflorestas são sistemas de domesticação das paisagens que têm como objetivo reproduzir os processos naturais que ocorrem nas florestas, possibilitando concomitantemente a conservação ambiental com uma produção agrícola sustentável.


As florestas produzem recursos como alimentos, madeira, fibras vegetais e plantas medicinais ao mesmo tempo em que são biodiversas.


Portanto, os Sistemas Agroflorestais têm como princípio a garantia da biodiversidade, o que não só favorece o equilíbrio ecológico deles, mas também possibilita uma produção agrícola diversificada e menos suscetível a pragas e doenças.


Embora a conceituação do tema e os estudos acadêmicos tenham surgido em meados dos anos 70, as práticas agroflorestais são antiquíssimas e vêm sendo aplicadas ao redor do globo, há milhares de anos, por populações nativas e tradicionais.


A exemplo disso, temos as populações nativas amazônicas que milênios antes da invasão europeia já realizavam agroflorestas, cultivando árvores frutíferas e preservando espécies florestais consideradas úteis, combinadas aos seus roçados tradicionais - prática ainda existente entre alguns povos amazônicos.


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Estratificação, sucessão natural e ciclagem de nutrientes


A seguir exemplificaremos e explicaremos alguns dos processos naturais nos quais os Sistemas Agroflorestais se baseiam.


Imagine que estamos caminhando por uma floresta. Ao olharmos verticalmente para a floresta , é possível notar que as plantas ocupam diferentes estratos (alturas), o que influencia diretamente na quantidade de luz que cada planta recebe. Essa diferença de estratos é denominada estratificação.


A estratificação associada às exigências das plantas por luz ou sombra, é empregado nos Sistemas Agroflorestais para dispor as espécies de modo a satisfazer tais exigências , combinando-as para que as plantas que necessitam de bastante luminosidade permaneçam nos estratos mais elevados, ao mesmo tempo que fornecem sombra às plantas que crescem melhor à meia sombra.


Outra característica que podemos notar em nossa caminhada pela floresta é a presença de plantas com ciclo de vida curto (anuais/bianuais) e plantas com ciclo de vida longo (perenes) crescendo próximas entre si sem interferirem no crescimento umas das outras. Esse fenômeno é chamado de sucessão natural.


A sucessão natural é a relação dinâmica entre plantas de ciclo curto e plantas de ciclo longo que permite que ambas ocupem o mesmo espaço. Essa proximidade entre as plantas não acarreta em disputa por espaço e nutrientes, pois elas têm ciclos de vidas distintos e, pelo contrário, é benéfica para a planta de ciclo de vida longo, pois as espécies anuais/bianuais atuam como produtoras de matéria orgânica, tutorando as espécies perenes.


Continuando nossa caminhada pela floresta, é possível notar uma camada de matéria orgânica sobre o solo, decorrente da queda de folhas, galhos, e restos de plantas mortas em diferentes estágios de decomposição. Nas florestas, essa camada de matéria orgânica sobre o solo desempenha uma função essencial, denominada ciclagem de nutrientes.


A ciclagem de nutrientes em florestas é o processo de absorção de nutrientes e minerais pelas plantas através da matéria orgânica disponível no solo, a metabolização e a consequente disponibilização de outros nutrientes novamente para o solo. (ANDRADE et al., 1999).


Compreendendo esse ciclo essencial para a manutenção florestal, os Sistemas Agroflorestais procuram acelerar esse processo através da constante poda das espécies, gerando assim matéria orgânica que irá contribuir para a nutrição e umidade do solo, bem como no fortalecimento das plantas podadas. A poda também proporciona maior penetração de luminosidade ao interior do sistema.


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Agroflorestas como alternativa à monocultura


Apesar das práticas de Agroflorestas serem conhecidas do ser humano há milhares de anos, nos últimos 100 anos o modelo amplamente empregado na produção de alimentos e recursos vegetais têm sido as monoculturas extensivas.


As monoculturas extensivas baseiam-se no plantio de uma única espécie em grandes extensões de terra (tais como; canaviais, milharais, bananais), o que acarreta em diversos problemas, como o empobrecimento da biodiversidade, degradação do solo e um uso excessivo de nosso maior bem: a água.


De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, a agricultura mundial sozinha usa 70% de toda água consumida no planeta.


Com a crescente de estudos que dão visibilidade às Agroflorestas, bem como o aumento no número de projetos e cooperativas agrícolas que têm utilizado esse saber ancestral, cada vez mais os Sistemas Agroflorestais aparecem como uma alternativa sustentável à monocultura.


Além da preservação e recuperação da biodiversidade, do solo e na diminuição do uso de água, as Agroflorestas possuem uma maior produtividade, pois elas podem ser continuamente manejadas e renovadas sem comprometer a qualidade do solo.


Embora a curto prazo o sistema de monocultura extensiva apresente um retorno financeiro maior, em longo prazo ele torna a terra inviável ao cultivo, fazendo com que as Agroflorestas, a longo prazo, sejam mais viáveis economicamente. Por fim, o ganho proveniente da preservação e manutenção da biodiversidade apresenta um valor incalculável, uma vez que garante o equilíbrio ecológico.


Para contextualizar nosso assunto, deixamos uma reportagem feita pela BBC News Brasil contando como a implementação de um sistema agroflorestal foi importante para reverter o processo de desertificação em Poções, pequeno município no Semiárido baiano. Um exemplo de como conciliar a produção de alimentos com a restauração ambiental.



Verde na sala de aula


Para auxiliar você professor a planejar sua aula, damos exemplos de habilidades que podem ser desenvolvidas com seus alunos baseadas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), a partir do uso deste texto como material de apoio.

Com os objetivos de promover o conhecimento acerca do desenvolvimento sustentável, biodiversidade vegetal, relação das plantas com o ambiente, educação ambiental e preservação da biodiversidade, nós indicamos algumas das seguintes habilidades.


Ensino fundamental:


(EF03CI10) Identificar os diferentes usos do solo (plantação e extração de materiais, dentre outras possibilidades), reconhecendo a importância do solo para a agricultura e para a vida.


(EF05CI03) Selecionar argumentos que justifiquem a importância da cobertura vegetal para a manutenção do ciclo da água, a conservação dos solos, dos cursos de água e da qualidade do ar atmosférico.


(EF05CI04) Identificar os principais usos da água e de outros materiais nas atividades cotidianas para discutir e propor formas sustentáveis de utilização desses recursos.


(EF08CI16) Discutir iniciativas que contribuam para restabelecer o equilíbrio ambiental a partir da identificação de alterações climáticas regionais e globais provocadas pela intervenção humana.


Ensino médio:


(EM13CNT105) Analisar os ciclos biogeoquímicos e interpretar os efeitos de fenômenos naturais e da interferência humana sobre esses ciclos, para promover ações individuais e/ ou coletivas que minimizem consequências nocivas à vida.


(EM13CNT206) Discutir a importância da preservação e conservação da biodiversidade, considerando parâmetros qualitativos e quantitativos, e avaliar os efeitos da ação humana e das políticas ambientais para a garantia da sustentabilidade do planeta.



Gostou? Aprenda mais sobre o assunto com o pai da Agrofloresta no Brasil, Ernst Götsch


Que tal conhecer mais sobre sustentabilidade? Visite nosso Instagram e nosso Site:




Escrito por: Lucca Ortega

Revisado por: Nicolas Nathan dos Santos



Referências:


ANDRADE, A.; CABALLERO, S.; DE FARIA, S. Ciclagem de Nutrientes em Ecossistemas Florestais. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1999.


ENGEL, V. L. Introdução aos Sistemas Agroflorestais. Botucatu: FEPAP, 1999.


MILLER, R. P.; NAIR, P. K. R. Indigenous Agroforestry systems in Amazonia: from prehistory to today. 2006.


STEENBOCK, W.; COSTA E SILVA, L.; OZELAME, R.; RODRIGUES, A. S.; PEREZ-CESARINO, J.; FONINI, R. Agrofloresta, Ecologia e Sociedade. Curitiba: Kairós, 2013.





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