Um fóssil encontrado em 2015, no Piauí, na Formação Romualdo da Bacia do Araripe, foi identificado como um ovo do grupo Crocodylomorpha do período Cretáceo Inferior; nele, foi possível identificar a estrutura de um embrião mineralizado!
Há milhões de anos, o surgimento do ovo amniótico foi um acontecimento ímpar na história evolutiva. Esse tipo de ovo protege o embrião do ressecamento fora da água, e foi, portanto, um dos fatores determinantes para a conquista do ambiente terrestre pelos animais. Por esse motivo, caracterizar e identificar fósseis como o fóssil encontrado no Piauí é indispensável para que possamos contar a história da vida.
Esse ovo é datado do Aptiano (entre 113 e 125 milhões de anos atrás) e pertence ao grupo Crocodylomorpha, que inclui os crocodilos que conhecemos hoje e seus parentes extintos. Além de ter sobrevivido a milhões de anos (o que já é um feito grandioso) ele pode ainda conter um embrião fossilizado, o que é bastante raro. Isso porque ovos são frágeis e é muito difícil que passem intactos pelo processo de fossilização. Na verdade, no caso desse fóssil da Formação Romualdo, isso foi possível porque o embrião encontra-se mineralizado. Isso quer dizer que, apesar de manter sua forma original, a composição química dos tecidos foi transformada, tornando-se mais resistente e durável.
Felizmente, apesar de o material ter sido modificado, ainda é possível extrair informações sobre esse fóssil incomum, como o grupo a que pertence. Para isso, o ovo foi comparado a ovos de espécies de animais recentes e passou por uma série de análises incluindo uma tomografia computadorizada, que possibilitou a identificação de estruturas anatômicas de um embrião. Comparando esses dados com embriões e ovos de animais que conhecemos hoje, é bastante seguro afirmar que se trata de uma espécie de Crocodylomorpha, o que pode tornar esse fóssil o primeiro ovo com resquícios embrionários encontrado desse grupo.
Referências
Abreu, D.; Viana, M. S. S.; Oliveira, P. V. de; Viana, G. F.; Nojosa, D. M. B. (2020). First record of an amniotic egg from the Romualdo Formation (Lower Cretaceous, Araripe Basin, Brazil). Revista Brasileira de Paleontologia, v.23, n.3, p.185–193. Doi:10.4072/rbp.2020.3.03